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Como cuidar de nossa Casa Comum – Por Dom Jaime Pedro Kohl

IMG_1180-195x300111111111Faço minha essa reflexão do Teólogo Leonardo Boff, pois me parece muito sabia e apropriada para ajudar na compreensão do espírito da Campanha da Fraternidade e da Encíclica Laudato Si.

Hoje, para cuidar da Terra como nos sugeriu detalhadamente o Papa Francisco, em sua Encíclica “Cuidado da Casa Comum”, exige-se “conversão ecológica global”, “mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder” (n.5). Esse propósito jamais será alcançado senão amarmos efetivamente a Terra como nossa Mãe e soubermos renunciar e até sofrer para garantir sua vitalidade para nós e para toda a comunidade de vida (n.223). A Mãe Terra é a base que tudo sustenta e alimenta. Nós não podemos viver sem ela. A sistemática agressão que sofreu nos últimos séculos tirou-lhe o equilíbrio necessário. Eventualmente, poderá continuar pelos séculos afora, mas sem nós.

No dia 13 de agosto de 2015 ocorreu o Dia da Sobrecarga da Terra, dia em que se constatou a ultrapassagem da biocapacidade da Terra em atender as demandas humanas. Precisa-se de 1,6 planeta para atendê-las. Em outras palavras. Isso demonstra que o nosso estilo de vida é insustentável. Nesse cálculo não estão incluídas as demandas da inteira comunidade de vida. Isso torna mais urgente nossa responsabilidade pelo futuro da Terra, de nossos companheiros de caminhada terrenal e de nosso projeto planetário.

Como cuidar da Terra? Em primeiro lugar há que considerar a Terra como um Todo vivo, sistêmico no qual todas as partes se encontram interdependentes e inter-relacionadas. A Terra-Gaia fundamentalmente é constituída pelo conjunto de seus ecossistemas e com a imensa biodiversidade que neles existe e com todos os seres animados e inertes que coexistem e sempre se inter-relacionam como não se cansa de afirmar o texto papal, bem na linha do novo paradigma ecológico.

Cuidar da Terra como um todo orgânico é manter as condições pré-existentes há milhões e milhões de anos que propiciam a continuidade da Terra, um super Ente vivo, Gaia. Cuidar de cada ecossistema é compreender as singularidades de cada um, sua resiliência, sua capacidade de reprodução e de manter as relações de colaboração e mutualidade com todos os demais já que tudo é relacionado e includente. Compreender o ecossistema é dar-se conta dos desequilíbrios que podem ocorrer por interferências de nossa cultura, voraz de bens e serviços.

 Cuidar da terra é principalmente cuidar de sua integridade e vitalidade. É não permitir que biomas inteiros ou toda uma vasta região seja desmatada e assim se degrade, alterando o regime das chuvas. Importante é assegurar a integridade de toda a sua biocapacidade. Isso vale não apenas para os seres orgânicos vivos e visíveis, mas principalmente para os micro-organismos. São eles os ignotos trabalhadores que sustentam a vida do Planeta. Diz-nos o eminente biólogo Edward Wilson que “num só grama de terra vivem cerca de 10 bilhões de bactérias, pertencentes a até 6 mil espécies diferentes”. Por ai se demonstra, que a Terra está viva, como superorganismo vivente e nós, a porção consciente e inteligente dela.

Cuidar da Terra é cuidar dos bens e serviços comuns que ela gratuitamente oferece a todos os seres vivos como água, nutrientes, ar, sementes, fibras, climas, etc. Estes bens comuns, exatamente por serem comuns, não podem ser privatizados e entrar como mercadorias no sistema de negócios como está ocorrendo velozmente em todas as partes.

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, inventário pedido pela ONU de uns anos atrás, no qual participaram 1.360 especialistas de 95 países e revisado por outros 800 cientistas trouxe resultados amedrontadores. Entre os 24 serviços ambientais, essenciais para a vida, como água, ar limpo, climas regulados, sementes, alimentos, energia, solos, nutrientes e outros, 15 estavam altamente degradados. Isto sinaliza claramente que as bases que sustentam a vida estão ameaçadas.

De ano para ano, todos os índices estão piorando. Não sabemos quando esse processo destrutivo vai parar ou se transformar numa catástrofe. Havendo uma inflexão decisiva como o temido “aquecimento abrupto”, que faria o clima subir entre 4-6 graus Celsius, como advertiu a comunidade científica norte-americana, conheceríamos dizimações apocalípticas afetando milhões de pessoas. Temos confiança de que iremos ainda despertar. Mais do que tudo cremos que “Deus é o Senhor soberano amante da vida” (Sb 11,26) e não deixará acontecer semelhante Armagedom.

Cuidar da Terra é cuidar de sua beleza, de suas paisagens, do esplendor de suas florestas, do encanto de suas flores, da diversidade exuberante de seres vivos da fauna e flora.

Cuidar da Terra é cuidar de sua melhor produção que somos nós seres humanos, homens e mulheres especialmente os mais vulneráveis.

Cuidar da Terra é cuidar daquilo que ela através de nosso gênio produziu em culturas tão diversas, em línguas tão numerosas, em arte, em ciência, em religião, em bens culturais especialmente em espiritualidade e religiosidade pelas quais nos damos conta da presença da Suprema Realidade que subjaz a todos os seres e nos carrega na palma de sua mão.

Cuidar da Terra é cuidar dos sonhos que ela suscita em nós, de cujo material nascem os santos, os sábios, os artistas, as pessoas que se orientam pela luz e tudo o que de sagrado e amoroso emergiu na história.

Cuidar da Terra é, finalmente, cuidar do Sagrado que arde em nós e que nos convence de que é melhor abraçar o outro do que rejeitá-lo e que a vida vale mais que todas as riquezas deste mundo. Então ela será de fato a Casa Comum do Ser.

Que ninguém se sinta dispensado de colaborar com a conservação e melhoramento da Casa Comum.

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