Complexo de vira-lata – Jayme José de Oliveira
A situação do Brasil, não só a atual, desde o descobrimento há uma tradição de aproveitar qualquer oportunidade para auferir vantagens – Pero Vaz de Caminha ao escrever a “Carta de Achamento do Brasil” aproveitou para solicitar ao rei D. Manoel I perdão para o seu genro. Esse fato não absolve as contínuas e desavergonhadas tentativas de “levar vantagem em tudo”, mesmo que recorrendo a meios ilícitos. Como resultado colateral introjetou-se um “complexo de vira-lata” nos brasileiros, como se fôssemos o rebotalho da civilização.
Prestem atenção ao discurso que Godfrey Bloom pronunciou em 21/11/2013 frente ao Parlamento Europeu, do qual era membro representando a Grã-Bretanha: denuncia a hipocrisia dos burocratas que sobrecarregam o povo com impostos enquanto, ironicamente, colocam-se como guardiões da lei e da economia, mas…
“Bem, senhor presidente, estava pensando em citar o filósofo americano Murray Rothbard, de que o Estado é uma instituição de ladrões de grosso calibre e que impostos são um sistema pelo qual os políticos e burocratas roubam dinheiro dos cidadãos para desperdiçá-lo nos modos mais vergonhosos. Este lugar não é uma exceção. Incrível, não consigo entender como vocês conseguem ficar com a cara tão séria quando se fala de evasão fiscal. A inteira comissão (europeia) e sua burocracia não pagam impostos. Vocês não pagam impostos como os cidadãos pagam impostos, vocês têm “ofertas especiais” de todo o tipo. Alíquotas fiscais compostas, altos níveis de isenção, aposentadorias isentas de impostos… Vocês são os maiores sonegadores de impostos de toda a Europa e sentam aqui “pontificando”. Bem, a mensagem chegou na casa dos cidadãos da União Europeia. Vocês descobrirão que os “Eurocéticos” voltarão em junho cada vez mais numerosos e posso dizer ainda mais: assim que as pessoas descobrirem suas fraudes, não será preciso muito tempo para que ocorra a invasão deste parlamento e que vocês sejam enforcados. E eles terão razão”.
Podemos aqui Brasil, sem pejo, assimilar não termos melhores nem piores políticos que os de outras plagas.
A decisão da 2ª Turma do STE de aceitar a denúncia contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) por ter recebido propina de uma empreiteira por meio de doação eleitoral registrada no TSE pelo caixa 1, desafia a Justiça Eleitoral e confunde a opinião pública. Há consenso que o caixa 2 é crime, até mesmo porque o STF já se manifestou a respeito mais de uma vez. Já a criminalização do caixa 1 dá um novo enfoque à questão e expõe a urgência dum regramento sensato para as doações eleitorais.
Lideranças do PT, PMDB, PSDB e demais partidos enrolados na Lava-Jato buscam emplacar a ideia do perdão para as falcatruas de campanha. O principal argumento daqueles que se beneficiaram de recursos de origem duvidosa, tanto pelo caixa1 quanto pelo caixa 2, é o de que era a regra do jogo.
“Anistiar o caixa 2, neste momento, soa como uma verdadeira imoralidade para a sociedade brasileira. Não vingou para o PT, por que vingaria agora? Um critério ético-jurídico, ou é universal ou não serve para nada. É inadmissível que a limpeza, de profundas implicações éticas, jurídicas e políticas, valha exclusivamente para um partido político e não para os demais”. (Denis Rosenfield, filósofo – Zero Hora, 14/03/2017).
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado