Complexo do Alemão ganha primeiro cinema
Morador do Alemão, o estudante Bruno da Rocha, 12 anos, entusiasmou-se por não precisar mais pegar várias conduções para assistir a um filme no cinema.”No último filme que vi, tive que andar de ônibus, kombi, um monte de coisa. Foi longe”, disse. Como recompensa pelo bom rendimento escolar este ano, ele foi um dos 60 alunos da rede pública municipal do complexo de favelas selecionados para assistir à primeira sessão do Cinecarioca Nova Brasília.
Todos os 12 funcionários do cinema são moradores da comunidade, entre eles o gerente, Wellington Cardoso, 28 anos, que participou da seleção de currículos na associação de moradores. Formado em administração, ex-funcionário de uma agência bancária e há oito meses desempregado, ele afirmou que teve o melhor fim de ano possível.
“É emocionante, porque a gente consegue uma cultura melhor para o morador e dá essa oportunidade para as crianças adquirirem essa cultura”, disse.
Com capacidade para 91 espectadores, entre eles cinco lugares para portadores de necessidades especiais, a sala de projeção terá quatro sessões diárias com tecnologia 3D, equivalente ao sistema de grandes redes exibidoras, com ingressos a preços populares. A inteira custa R$ 8, mas todos os moradores do complexo de favelas terão direito à meia-entrada (R$ 4).
“O cinema no Brasil virou um programa de luxo, uma espécie de cultura de butique, só tinha em shoppings, e essas casas populares são uma volta do cinema ao seio do povo”, defendeu o cineasta Cacá Diegues, diretor do filme Cinco Vezes Favela.
A auxiliar de serviços gerais Erenita Mendes Evangelista, 55 anos, afirmou que pensou em abandonar a residência por causa da criminalidade. Avó de dois meninos, de 8 e de 5 anos, ela disse que os netos nunca foram ao cinema, já que “ninguém [da família] nunca teve tempo para levar. E agora fica mais fácil com um [cinema] aqui na comunidade”. “Ano passado não teve alegria aqui não. Eu não tinha nem prazer de passar o Natal aqui. Este ano vai ser bem melhor, porque ano passado era bala para lá, bala para cá”, contou Erenita.
Aposentado e vizinho da sala de exibição, Moacir Moraes, 79 anos, afirmou que está pronto para conviver com a cultura na porta de casa, em vez da violência do tráfico de drogas. “Eu moro aqui desde quando não tinha nem água, não tinha luz, aí foi melhorando, melhorando, que chegou aonde chegou. Porque aqui é lugar bom. Tem até cinema, que nunca teve. Está melhorando”.
Em frente ao cinema também foi instalada uma quadra poliesportiva, que integra o projeto de revitalização da área. O prefeito, Eduardo Paes, reafirmou que a ocupação da localidade pelas forças do Estado é apenas o começo do resgate da cidadania dos moradores do Complexo do Alemão. “E vamos buscar cada vez mais qualificar esse lugar, trazer serviços, lazer. A gente está muito feliz de poder trazer paz para essa comunidade no Natal, novos equipamentos públicos e novos serviços”, afirmou.