Controle biológico de doenças e pragas – Por Jayme José de Oliveira
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Desde tempos imemoriais a humanidade, para prover sua subsistência e resistir às doenças, tem se digladiado com micro-organismos, pragas e condições adversas. Armou-se para se defender das feras e guerrear. A medicina e a agricultura se projetaram como aríetes do desenvolvimento para evitar a extinção que abateu até gigantes como os dinossauros.
Após uma exagerada dependência de agrotóxicos está, paulatinamente, enveredando por procedimentos mais consentâneos com o equilíbrio ecológico e respeito à biodiversidade.
O controle biológico é um fenômeno que acontece espontaneamente na natureza e consiste na regulação do número de plantas e animais por meios naturais. É uma estratégia que vem sendo utilizada há muito tempo para o controle de patógenos, pragas e plantas daninhas. Em comparação ao controle químico apresenta vantagens, muitas, e desvantagens, menos significativas. Entre as vantagens pode-se citar que não é tóxica, não provoca desequilíbrio no ecossistema e não possui contraindicações. Em compensação exige tecnologia de ponta e, eventualmente, é mais cara.
Atualmente quatro procedimentos de controle biológico podem ser usados, isoladamente ou em combinação com outros o que, geralmente, resulta ser mais eficiente e deve ser recomendado sempre que possível.
- CRIAÇÃO DE ESPÉCIES TRANSGÊNICAS
Introduzem-se dois genes em ovos de mosquitos Aedes Egypti. O “DsRED2” faz a larva brilhar quando exposta a uma luz especial permitindo sua visualização para o manuseio. E o “tTAV” que tem por função causar a morte das larvas alguns dias após o nascimento. Os ovos chocam e os mosquitos transgênicos nascem. Sua espécie foi batizada “OX513A”. São mantidos em gaiolas para reprodução, cada fêmea deposita ao redor de 100 ovos que são colocados em bandejas com tetraciclina que inibe o gene “tTAV” e por esse motivo as larvas não morrem no cativeiro, são colocadas em aparelhos cobertos por tela muito fina. As fêmeas, maiores, não podem fugir, permanecem para reprodução. Os machos, menores são recolhidos e soltos nas regiões infestadas, em grande número (na proporção de dez para cada mosquito nativo). Devido à superioridade numérica fertilizam a maioria das fêmeas. Ao eclodirem os ovos, como na natureza não existe tetraciclina para inibir o gene “tTAV”, morrem antes de transmitirem a doença. Gradativamente a espécie vai sendo erradicada. É RECOMENDADE PARA O COMBATE AO MOSQUITO DA DENGUE (AEDES EGYPTI).
- ESTERILIZAÇÃO DOS MACHOS COM RADIAÇÃO
Usada com sucesso nos Estados Unidos, México e na América Central, acaba de ser testado em países da América do Sul com vistas a ser adotado em todo o Mercosul para controle da mosca “Cochliomyia hominívora” cuja larva se alimenta de carne viva dos animais, a conhecida “bicheira”, que causa imensos prejuízos à pecuária. A fêmea da mosca copula uma única vez e deposita seus ovos em qualquer ferida dos animais. O processo consiste em criar machos da espécie em grande quantidade, esterilizá-los com Raios-X e soltá-los nas regiões infestadas. Utilizam-se aviões com caixas repletas de reprodutores estéreis que ao copular com as fêmeas nativas tem como resultado a produção de ovos igualmente estéreis. A redução populacional gradual dos insetos leva à extinção da praga.
- EMPREGO DE VÍRUS, FUNGOS E BACTÉRIAS
Na natureza o controle da biodiversidade é executado por predadores e micro-organismos patogênicos, estes são seletivos e atacam exclusivamente espécies determinadas o que torna seguro seu emprego para erradicar pragas. Para alcançar resultados de controle cumpre, preliminarmente, identificar os inimigos naturais da praga-chave. A reprodução do agente controlador em larga escala é um dos maiores desafios a serem transpostos.
Fungos, vírus e bactérias são os principais micro-organismos utilizados para facilitar culturas como a da cana-de-açúcar, cítrus, soja, milho, mandioca, banana entre muitas outras.
O controle biológico, assim como qualquer estratégia dentro de um sistema agroecológico de produção jamais poderá ser “um fim em si mesmo” mas um poderoso auxiliar para um cultivo ecologicamente viável.
- PREDADORES NATURAIS
Além de micro-organismos, outros predadores naturais são eficientes no controle de pragas. A lagarta “Helicoverpa” que está causando mais de 1 bilhão de reais de prejuízo anuais pode ser controlada por minúsculas vespas do gênero “Trichogramma spp”.
Ivan Cruz, do Núcleo de Pesquisa em Fitossanidade da Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas, Minas Gerais, diz que a vespa é o principal agente para controlar os ovos de diversas espécies quando liberadas no campo e o método mais eficaz é lançá-las de avião em caixas que as liberam no solo. O parasitismo das vespas aos ovos de lagarta é de eficácia retumbante.
Devido aos prejuízos causados pela lagarta nas lavouras do Brasil, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA) declarou, mediante portaria, emergência fitossanitária no país.
Esta coluna já estava redigida quando me deparei com a seguinte manchete no Correio do Povo (18/08/2.015): “COMBATE ECOLÓGICO ÀS PRAGAS INTERROMPIDO”.
A interdição da biofábrica de produção de vespas da Emater, em Montenegro, poderá prejudicar a adesão de produtores que pretendiam experimentar o controle biológico de lagartas na safra 2.015-2.016. Cada cartela contém cem mil ovos, o suficiente para cobrir uma área de mil metros quadrados. Além dos benefícios ecológicos a economia é relevante: R$ 30,00/hectare contra R$ 300,00 de agrotóxicos que, além do mais, necessita 2 a 3 aplicações. Cumpre salientar que a vespa “Trichogramma spp” ataca EXCLUSIVAMENTE A LAGARTA.
A Fepam providenciou apenas o licenciamento e a lei determina que haja também um registro junto ao Serviço de Fiscalização de Insumos do Mapa/RS. Dez dias depois de notificada a Emater entregou a documentação solicitada. Agora o processo vai entrar em fase de relatoria, etapa em que é distribuído a um fiscal federal. Enquanto isso a biofábrica segue fechada. ATÉ QUANDO?
Atualmente aliam-se vários métodos de controle simultaneamente, incluindo rotação de culturas, manejo racional de agrotóxicos e uso de variedades resistentes, algumas delas obtidas por técnicas de transgenia.
Jayme José de Oliveira – cdjaymejo@gmail.com