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Conversas privadas – Jorge Vignoli

Conversas privadas - Jorge VignoliSucede que o vice-presidente da República, general Mourão, tem muitos títulos, passou pela Academia Militar das Agulhas Negras, cursou a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, cumpriu Missão de Paz em Angola, foi adido militar na Embaixada do Brasil na Venezuela, comandou várias guarnições no Rio Grande, assumiu o Comando Militar do Sul, enfim, o ex-militar possui muitas honras.

Confesso que não possuo nenhuma sintonia com o general e com Exército, exceto quanto me alistei e, para a minha alegria, sair livre abanando um certificado de terceira categoria.

Mas voltemos ao general que, volta e meia – com o perdão do trocadilho –, se empolga com a evidência do cargo presidencial e vai soltando verbo pelo caminho. Até sugeriu uma nova Constituição a ser elaborada por “notáveis”. Outro dia, em enlevo sociológico afirmou que a família sem homens são fábricas de desajustados. Chegou até a defender, depois, uma intervenção militar no Brasil em caso de “anarquia”. Caminhou pela eugenia, inclinando-se pelo “branqueamento da raça”, e investiu contra os direitos dos trabalhadores, e atacou o décimo terceiro salário que chamou de “jabuticaba brasileira”.

Mas também sejamos justos. O general demonstrou sensibilidade, quando apoiou a ida de Lula ao velório do irmão, e descartou a possibilidade de qualquer ato de intervenção militar do Brasil na Venezuela, e se disse preocupado com a renúncia de Jean Wyllys, atribuindo as ameaças que o deputado disse ter sofrido como um crime contra a democracia.

Entretanto, o general não perde a essência, e recai. Agora quando surgem as mensagens trocadas entre o ex-juiz da Lava-Jato e os Procuradores, saiu-se com a afirmação de que “conversas privadas são privadas”.

Além de acaciana a afirmação, o general admite – por ilação óbvia – que houve conversa escondida envolvendo uma figura que não pode, por dever de ofício, cometer a imprudência de não assegurar às partes a igualdade de tratamento.

A Lava-Jato cumpriu e haverá de cumprir um papel transcendente a vasculhar  o que há de insólito nas entranhas do Poder. Porém, a publicidade das conversas mantidas até então “privadas”, entre o Juízo e os Procuradores, mas que emergiram a mostrar os descaminhos processuais manchou de forma inexorável a figura do Juiz de Curitiba, agora ministro de Estado.

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