Variedades

Copa: varejo registra queda nas vendas, mas bares faturam

Os torcedores brasileiros e estrangeiros esquentam as vendas em bares e em lojas de enfeites e de televisores durante a Copa do Mundo, que chega hoje (3) ao 22º dia. Já os outros segmentos do comércio estimam perdas com a realização do torneio, devido aos feriados, que deixam as ruas vazias, e desviam a atenção dos consumidores para os jogos.

De acordo com o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes, a Copa do Mundo deve movimentar R$ 863 milhões em vendas no varejo, principalmente eletroeletrônicos e artigos de uso pessoal, como camisetas. “Os televisores estão 44% mais baratos que na última Copa. Há um apelo pelo consumo de televisor. Se as taxas de juros não estivessem tão altas, poderia chegar a movimentar perto de R$ 1 bilhão com a Copa”, destacou o economista. “Outros segmentos não ganham e alguns até perdem. O problema é que foram decretados feriados em diversas cidades do Brasil e isso afeta a lucratividade”, disse Bentes.

Para cada feriado, há perda de 9,2% na lucratividade na comparação com um dia normal, explica o economista. Esse percentual representa perdas diárias de cerca de R$ 600 milhões. A redução nos lucros ocorre porque em dias de feriado o pagamento para quem trabalha é em dobro. “Normalmente, 16% das vendas são usados para pagar salários. Esse custo dobra com o feriado, o que pressiona a margem de lucro”, ressalta Bentes. “Também tem que ser considerado os valores dos salários pagos em cada cidade. No Rio de Janeiro e em São Paulo, onde os salários são mais altos, o efeito no lucro é maior”, completou.

No Rio de Janeiro, a estimativa do Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio) é a de que as perdas cheguem a R$ 1,9 bilhão. A entidade acredita que o faturamento diário das lojas deve cair entre 50% e 70%.

De acordo com o presidente da CDLRio, Aldo Gonçalves, não são apenas os feriados municipais, em dias de jogos, que atrapalham as vendas. Ele culpa a própria Copa, por tirar a atenção dos consumidores. “As pessoas não estão pensando em comprar roupas – um vestido, um terno -, carro. [Elas] estão focadas nos jogos.”

Nas ruas movimentados do centro do Rio, mesmo sem partida da Copa, os vendedores dizem que os clientes sumiram. “É hora do almoço e veja: loja vazia. Geralmente, é quando vendemos mais”, disse o gerente de uma rede varejista, que preferiu não se identificar. Na concorrência, a situação é a mesma. “Vendemos 50% a menos que em um mês normal”, um lojista.

Por outro lado, no comércio popular, as lojas cheias mostram que ainda há gente com disposição para comprar. A bióloga Adriana Garcia do Espírito Santo, 37 anos, busca pulseiras do Brasil. Ela conta que já levou para casa cerca de R$ 200 em produtos, desde que a Copa começou. “Comprei camisetas, tiaras, brinco, maquiagem e esmalte. Só umas bobagens.”

De férias, o vendedor Jaziel Pinto da Trindade, 31 anos, procurava roupas e brinquedos para os filhos. Disse que o “enxoval” da Copa já foi todo comprado e saiu por cerca de R$ 150. “Comprei blusa de malha para mim e para ele [o filho de cinco anos], para torcer pelo Brasil. Lá em casa, todo mundo também comprou camiseta, bandeirinha, essas coisas todas.”

Em Brasília, a aposentada Eliane Zwetsch, 60 anos, contou que também comprou produtos como camisas, bandeiras e enfeites. “Comprei mais nesta Copa do que na outra, com certeza”, disse.

Nos pontos turísticos do Rio, como a orla da Praia de Copacabana, os donos de bares, restaurantes e quiosques não têm do que se queixar. “O movimento aumentou mais que 100%, mais que no verão, Ano-Novo e carnaval”, contou o gerente Carlos Alexandre Oliveira. Segundo ele, os melhores clientes são os latino-americanos. “Quem mais deu alegria na praia foram os chilenos. Argentinos, colombianos, costa-riquenhos também gastaram bem.”

Em Copacabana, o gerente de um restaurante em frente à Fifa Fan Fest conta que os europeus são os que mais gastam. “Abrimos às 11h e, muitas vezes, chegamos às 10h e já tem gente esperando mesa”, contou Thiago Ribeiro. Lá, garçons estão trabalhando dobrado para dar conta do movimento. “Tá bom para todo mundo, dos ambulantes aos comerciantes.”

Segundo a Orla Rio – que administra os quiosques da zona oeste e zona sul -, o faturamento em Ipanema, Leblon e Copacabana vai bater os melhores verões. “A previsão é de aumento de mais de 70%, com a possibilidade de chegar a 150%”, disse o vice-presidente, João Marcello Barreto. “Tem quiosque aberto 24 horas”, completou.

Nos bares das cidades da Copa, a expectativa de vendas também é positiva. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima aumento do faturamento dos bares em 70% nos dias de jogos do Brasil e 30% em partidas de outras seleções. Neste ano, o faturamento do setor deve chegar a R$ 12 bilhões, contra R$ 9 bilhões, em 2013.

Em outros setores, a Copa do Mundo passou longe de ajudar a estimular as vendas. De acordo com Bentes, o setor de comércio está em desaceleração este ano, e o motivo para a redução no ritmo são as taxas de juros elevadas e menor prazo de pagamento do crédito. “As taxas de juros ainda estão subindo tanto para o consumidor quanto para os empresários. E, como os brasileiros olham o valor da prestação, os prazos menores dificultam as vendas. Quando o prazo encolhe, o varejo sente.”

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