Criança vítima de tortura, abuso sexual pelo avô e pelo instrutor de academia: casos chocantes alvos de uma força-tarefa da Polícia Civil que desarticulou uma rede de crimes contra crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
A operação “Fim do Silêncio”, deflagrada na quinta-feira (29), resultou no cumprimento de nove mandados de prisão e seis de busca e apreensão, revelando detalhes estarrecedores de abusos e violências.
A investigação minuciosa, que durou oito meses, trouxe à tona a realidade brutal enfrentada por vítimas com idades entre quatro e 14 anos.
Até as 7h30min, seis suspeitos já estavam sob custódia, em ações que se concentraram em Canoas e Gravataí.
Foram emitidos uma prisão temporária e oito preventivas, demonstrando a gravidade dos crimes investigados.
Além das prisões na Região Metropolitana, a operação se estendeu para Tramandaí, no Litoral Norte gaúcho, e Biguaçu, em Santa Catarina, evidenciando a amplitude das atividades criminosas.
O medo como ferramenta para o silêncio
O diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, Cristiano Reschke, ressalta “são crimes que afetam a integridade, a dignidade e o futuro de crianças e adolescentes.
Essas são situações que dificilmente conseguimos apurar sem a colaboração de pais, responsáveis, amigos e vizinhos.
É importante observar a mudança no comportamento de crianças e adolescentes: os sinais não podem passar despercebidos.
O criminoso se vale do medo para manter as vítimas em silêncio”, alertou Reschke, enfatizando a importância da vigilância e da denúncia por parte da comunidade.
Casos que chocam: da academia ao ambiente familiar
Os casos revelados pela operação expõem a crueldade e a covardia dos agressores.
O delegado Maurício Barison, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Canoas, responsável pela investigação, descreve a dificuldade de lidar com a brutalidade dos fatos.
“É indigesto relatar o que acontece com essas vítimas, é brutal.
A gente pede que as famílias fiquem atentas a mudanças de comportamento”, afirmou Barison.
Entre os crimes está um homem de 26 anos, sócio-proprietário e instrutor de uma academia em Canoas.
Ele é suspeito de instalar celulares para gravar alunas se despindo no vestiário e de abusar sexualmente delas durante as avaliações físicas.
A descoberta só ocorreu após a mãe de uma das vítimas notar alterações drásticas no comportamento da filha, como agressividade, isolamento e depressão.
Outro caso revoltante envolve um homem de 72 anos, investigado por abusar da própria neta, de 10 anos, no bairro Guajuviras, em Canoas.
O avô se aproveitava da ausência da mãe da criança, que saía para trabalhar, para cometer os abusos, utilizando a desculpa de “ajudar a filha”.
Criança vítima de tortura
A investigação também revelou um cenário de tortura doméstica.
Uma menina de 12 anos vivia um pesadelo nas mãos da tia-avó, de 46, e da companheira dela, de 52, em Canoas.
A adolescente era submetida a tarefas domésticas exaustivas, sofria torturas físicas e psicológicas, privação de sono e alimentação.
Deixada na rua para dormir com o cachorro e alimentando-se da ração do animal, a vítima apresentava hematomas, cicatrizes, peso extremamente baixo e pouca estatura para a idade, sinais claros da privação e dos espancamentos com sarrafo de madeira.
Além das agressões físicas, seu cabelo foi raspado pelas investigadas como parte das torturas psicológicas.
Importância da denúncia e atenção aos sinais
A operação “Fim do Silêncio” não apenas resultou em prisões, mas também serve como um alerta crucial para toda a sociedade.
A Polícia Civil reitera a necessidade de que pais, responsáveis, educadores e a comunidade em geral estejam atentos a qualquer mudança de comportamento em crianças e adolescentes.
A denúncia é fundamental para que crimes como esses não fiquem impunes e para que outras vítimas sejam salvas.