Crime e punição
De repente, abriu-se a Caixa de Pandora da Igreja Católica Apostólica Romana. Regurgitaram os monstros da pedofilia, travestidos em padres, bispos e arcebispos.
O arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, em acirrada defesa da Igreja, soltou o verbo afirmando que os injustos ataques desferidos contra a instituição servem, apenas, para denegri-la e prejudicar sua imagem. Sabe-se que o arcebispo, historicamente, é infeliz ao formular suas frases. Isso não justifica a postura preconceituosa do religioso ao declarar que “Quando a sexualidade é banalizada, é claro que isso vai atingir todos os casos. O homossexualismo é um caso. Antigamente não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando começa a (dizer) que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos”. Mais ainda se manifestou Dom Dadeus: “A sociedade atual é pedófila”.
Há, no entanto, uma pergunta que não quer calar: por que somente agora se tornaram públicos esses fatos hediondos, que os chefes da Igreja mantiveram na clausura e no silêncio dos mosteiros e dos conventos durante toda a História? O arcebispo de Porto Alegre mostrou-se inteiramente equivocado ao generalizar e afirmar que a sociedade é pedófila. A vitimização da Igreja, defendida por Dom Dadeus, é um erro. Vítima, sim, é a criança, o adolescente, no caso.
É cláusula pétrea, a Igreja impõe aos seus ministros a dura pena da castidade e, via de consequência, o celibato. Por retratar-se em Jesus? De fato, Ele exultou o valor de se ser solteiro, especialmente para aqueles que receberam a chamada para servir a Deus nas suas vidas. (Evangelho de S. Mateus 19.11-12). Se Jesus Cristo fosse casado o Apóstolo Paulo não teria escrito o seguinte: “Não temos nós o direito de levar conosco uma esposa crente como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Caifás?” (1 Coríntios 9.5). Isto demonstra claramente que os irmãos de Jesus de Nazaré eram casados, mas Ele não o era. Além disto, não existe nenhum documento que sugere que fosse casado. Nem sequer os evangelhos gnósticos. Mas quem, efetivamente, garante ter sido o Homem um casto?
Se o Concílio de Niceia deliberou sobre as grandes controvérsias doutrinais do Cristianismo nos séculos IV e V, como a questão ariana, a celebração da Páscoa, o cisma de Milécio, o batismo de heréticos, o estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio e, segundo alguns autores, confirmou o Cânone Muratori, do ano 170, portanto cerca de 150 anos anterior ao Concílio, que mencionava, convenientemente aos interesses do Alto Clero, quais os evangelhos que fariam parte da Bíblia, sequer insinuou discutir a revogação do celibato, o que traria, como de fato se tem constatado, profundos sofrimentos e incertezas aos noviços.
Mas nada exime os hoje conhecidos réus da justa condenação pelo crime hediondo.