Colunistas

Da série depoimentos

É conterrâneo… Assim vou  levando a vida. Como todo o mundo!!! Levantando às seis da manhã, tomando um café bebido e caminhando,  quase correndo, para o ponto, com medo de perder o ônibus.

No trajeto fumo uns dois cigarros, até que chega o ônibus e eu  me  misturo com outras pessoas, sentadas e em pé, rumo ao trabalho.

Bato  o ponto e começo uma jornada de oito horas de trabalho e, se puder trabalho  nove ou dez, pois  umas horas extras ajudam,sempre, o minguado salário ao final mês.

Quando saio do trabalho tomo, novamente o ônibus de retorno e desço em uma parada perto da minha casa, junto ao boteco onde compro fiado o pão, o cigarro e a mortadela para o café da noite, com a mulher e com os filhos.

Aproveito para tomar uns quatro ou cinco “martelinhos”  de cachaça  de Santo Antonio. Pura que é para curar a dor nos braços e o aperto no peito. Nos dias em que tenho parceria,  tomo  quase uma garrafa.

Quando bebo demais a cachaça começa a ficar amarga e eu  fico desconfiado que não seja de Santo Antonio. Lá pelas oito ou nove da noite levo o pão e a mortadela para casa.

Quando estou muito bêbado não consigo tomar café. Vou me deitar para não ouvir as broncas da mulher e o  choro dos filhos. Sempre fico muito envergonhado quando chego bêbado em casa. Prometo, para mim mesmo que isto não vai mais acontecer.

Mas sempre tem  alguém convidando a gente para mais uma e ai não se consegue ficar na primeira. Quando tomo umas a mais, fico pensando em meus filhos e no futuro que eles terão. Será que eles serão diferentes de mim?

Será que poderão  estudar e ter um trabalho   de terno e gravata, com telefone do lado, secretária e cafezinho? Ou serão  miseráveis iguais a mim, com um trabalho miserável e com uma vida miserável? O meu silêncio fica mais profundo e eu peço mais um martelo da pura, cujo sabor amargo vai queimando minhas dores, minhas tristezas e minha vergonha!

Zé Antonio (Coqueador de sacos de Rosário do Sul).

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