Dependência emocional dentro da Igreja – Por Erica Matos
Já diria vovó: “ninguém está livre”. Estamos falando de um relacionamento que cresce pra dentro de si mesmo limitando cada um dos envolvidos. Um relacionamento em que pessoas A e B se relacionam a tal ponto que pensam que o cuidado e a presença do outro se tornam essenciais para o seu bem estar, para o seu bem viver. Um relacionamento em que se não houver a entrega esperada pela pessoa A à pessoa B ou vice versa, não se vê sentido para continuar vivendo, andando, comendo, respirando, enfim, fazendo qualquer outra coisa. Em outras palavras, estamos falando de idolatria.
Nós temos um potencial enorme para sermos seres idólatras, porque é do ser humano o desejo de se encantar, de pertencer, de se sentir seguro, de adorar, o desejo da afetividade. Estamos muitas vezes então, suscetíveis a nos tornar dependentes emocionais.
Têm se tornado cada vez mais comum no meio cristão pessoas que dependem emocionalmente uma das outras. Um bom assunto pra entrar em pauta e ser discutido, principalmente em meio à liderança das grandes igrejas. Vemos pessoas que em busca de conforto, de segurança, de proteção, entregam suas emoções e sua vida à líderes, discipuladores, bispos, pastores, intercessores e, vemos também, líderes que têm a necessidade de ter pessoas que dependam emocionalmente de suas orientações, direções, de sua presença.
Normalmente dependentes emocionais se fecham pra outros relacionamentos, focalizam apenas naquele de que dependem, se isolam. Começa na maioria das vezes com a melhor das intenções, mas colocam todas as suas expectativas naquilo, naquele(a). É fácil reconhecê-los pois eles se adaptam à quem dependem, garantindo assim a permanência daquela pessoa à sua vida, como por exemplo adotando os hábitos, costumes, forma de vestir, mudam em prol do relacionamento, seja ele romântico ou hierárquico apenas para agradar e manter o outro em sua vida. O dependente emocional fica impossibilitado, incapaz de ver os defeitos do outro, ele é alguém carente, possessivo, nunca caminha com as próprias pernas, nunca se torna autônomo e assim, não desfruta da sua plenitude em Cristo. Pode ocorrer entre pessoas do mesmo gênero, pai e filho, irmão e irmã, marido e mulher, etc.
Mas não se desespere, há uma grande diferença entre dependência emocional e uma amizade saudável. A amizade saudável expande, inclui outras pessoas, se alegra e compartilha. A dependência emocional ou pessoas pré-dispostas à dependência emocional, incha, sufoca. A amizade saudável é edificada através do tempo, respeitando os processos, já a dependência atropela, inibe (Aquelas pessoas que conversam 3 minutos e afirmam que você é o melhor amigo da vida inteira, conhece?).
É preciso ter muito cuidado com os níveis de dependência emocional. De uns anos pra cá, temos visto que relacionamentos abusivos têm sido denunciados, o assunto tem sido esclarecido e ganhou voz a informação do que é prejudicial em um relacionamento e o que não é. Não há mais desculpas pra permanecer no erro, permanecer em um sistema de relacionamento que não liberta, não faz crescer.
Assim como no começo deste texto afirmei que pode acontecer com qualquer um a qualquer momento, reafirmo que é muito importante pedirmos ao Pai que nos sonde freqüentemente. Qual é a minha real motivação por trás do relacionamento? O que eu tenho esperado deste relacionamento? Onde e em que tenho depositado minhas emoções? Nosso coração à todo momento corre o risco de ser roubado. Precisamos estar com ele bem guardado pois ele é a fonte da vida, dele procedem todos os nossos caminhos. Este é um tema que vale a pena ser discutido e mais falado dentro das Igrejas, pois grande parte das manipulações “evangélicas” religiosas se dão porque há pessoas pré dispostas à dependência emocional e há pessoas pré dispostas à formar dependentes emocionais.
Não deixe que nada nem ninguém roube seu coração, suas emoções. Por uma Igreja viva e saudável que constrói e edifica seus relacionamentos na base do amor mútuo e integridade.
“Não terás outros deuses além de mim. “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra.” – Êxodo 20:3-4
Erica Matos é responsável pela Comunicação na IBFO e tem por paixão a escrita.