Deus está mediocrizado – Sergio Agra
“Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus.”
Segundo Mandamento do Decálogo.
O Segundo Mandamento se deve ao fato de àquela época as pessoas misturarem muito comumente Deus com as coisas materiais (E hoje, não???). Por qualquer motivo torpe era pronunciado o nome de Deus como uma evocação. Sabemos com o advento do espiritismo que aqueles que usam a divindade para meios fúteis ou mesquinhos somente atraem espíritos menos elevados que buscam o prazer da gozação com a crença infantil dos outros. Por isso o Segundo Mandamento nos faz lembrar de que a Deus deixemos somente as situações que tenham valor real divino.
Quer você tenha TV por assinatura ou não, abundam os canais de emissoras de televisão de “propriedade” das igrejas, sobretudo das evangélicas. Aliás, nunca se viu tanto merchandising das igrejas para “vender” cadeirinhas para o celestial e eterno repouso, não obstante recente pesquisa feita pelo instituto Datafolha mostrar que três em cada 10 brasileiros (29%), com 16 anos ou mais, são evangélicos. Deste número 22% são pentecostais e pertencem a igrejas como Assembleia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã e Igreja do Evangelho Quadrangular.
Se analisarmos o resultado apontado pelo Datafolha de brasileiros evangélicos, causa-nos estranheza aquele relativamente pequeno percentual, a ponto de colocarmos em dúvida a credibilidade deste Instituto, vez que o volume das vozes nas preces – e o delírio nas overdoses de “aleluias…” e “hosanas…” advindos do rebanho de crédulas ovelhinhas ante o “milagre” prestidigitado pelos pastores, mal-ajambrados na indefectível indumentária calça-e-paletó-nada-a-ver-uma-com-o-outro, sem esquecermos as berrantes e anacrônicas gravatas, durante o mais rudimentar exercício de exorcismo a fim de “expulsar” o demo, a coisa ruim do corpo do crente ignaro, o volume de suas vozes –, repito, é tão alto que vizinhos aos templos não hesitam em implorar: – “Rezem baixo, Jesus não é surdo!” – e dê-lhe expulsar o diabo do corpo, dê-lhe invocar Jesus para que Este pague o carnê do vivente que há muito se encontra em atraso, e dê-lhe em recolher as sacolinhas do dízimo, condição sinequae non para adquirir o passaporte na carruagem douradas que os conduzirá aos Céus.
Como particulariza ainda a mesma pesquisa, a maior concentração de evangélicos se dá exatamente nos Estados do Nordeste, região sabidamente com os índices mais rasteiros de educação e cultura do País.
Se a Basílica de São Pedro na cidade do Vaticano é símbolo da ostentação da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana o mesmo cabe para o templo do Bispo “171”, em Salvador. A edificação de aproximadamente dez pavimentos, com auditórios com capacidade para até quatro mil fiéis presentes aos cultos vesperais e noturnos lembra a caixa-forte do Tio Patinhas. Edir Macedo, diferentemente do milionário pão-duro da Disney, banha-se nas águas do Caribe, a bordo de luxuoso iate, em glamorosa companhia, deliciando-se com lagostas frescas e caviar, regados por legítimo Moet&Chandon de generosa safra e tragando o mais puro e legítimo cubano Monte Cristo com o patrocínio das sacolinhas compulsoriamente recolhidas nos cultos de todas as “filiais”.
O nome de Deus é muitas vezes pronunciado destituído do mínimo sentido de Fé nas ocasiões mais vulgares. Saberão os atletas o significado do sinal da cruz, gesto mecânico do condicionamento pavloviano do qual se valem ao ingressar nas canchas e nos gramados; ao comemorar o gol ou até mesmo por tê-lo perdido, arremessando a bola para o fundo do estádio? Nas entrevistas pós-jogo o que mais se escuta é, “Graças a Deus, o negócio é levantar a cabeça e partir pra outra…” (de tanto repetir o “levantar a cabeça” não há o risco de ser degolado pelas asas de um avião?), ou “Graças a Deus, Ele colocou a bola nos meus pés e…”. Ora, Deus tem coisas mais importantes a fazer do que ouvir sandices e dar assistência para o gol dos neimares.
Serão todas autênticas as frases pré-fabricadas de “Quero agradecer a Deus e à minha família…” dos candidatos aos thevoice da vida?
Não serão falsos os profetas que profetizam diuturnamente em nome de Deus-Pai e no de Jesus, posando de bons e beatos cristãos, tementes ao Todo-Poderoso? Cuidado, pois, com falsos Cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios, falarão, escreverão e defenderão coisas de espantar, a ponto de seduzirem os próprios escolhidos.
O meu Deus não é atemorizador. O meu Deus não é punitivo. O meu Deus não é vingativo. O meu Deus é o que sopra em meu Espírito. O meu Deus é o Deus de Baruch Spinoza: – “Para de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti”. Este é meu Deus. É assim que O vejo, no meu silêncio, contemplativo. Não grito aleluias, hosanas como o fazem os fariseus.
Deixa de usar e se valer do Seu Santo nome em vão. Para de contar histórias da carochinha por conta do nome d’Ele, tenha paciência, pois deste jeito Deus está contigo, Deus está conosco até o pescoço.