Diuturno Viajante
Que ironia! A professorinha, o agente da segurança pública, o funcionalismo em geral, a dona-de-casa, a simpática vendedora de jornais de cada esquina, o José, a Maria, o Antônio, a Clarice e o João, em suas tristes rotinas de pobreza e abandono também sonham em viajar. Não para Porto de Galinhas, Fortaleza, Ceará, Búzios, Maceió, mas Quintão, Pinhal, Cidreira, Tramandaí ou Curumim. E se isso for muito, um mergulho nas praias do Lami, ou Belém Novo, onde, aos olhos desse povo a poluição do Guaíba inexiste.
Mas não! Para da Silva o refrigério do Lago Paranoá é coisa pouca. Ele quer, mesmo, é percorrer o país inteiro. Como o fazia, primeiro, como líder sindical, para o interior paulista.
Não se discute, aqui, a conveniência daquela condição – presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Afinal, as classes operárias encontravam-se, efetivamente, amordaçadas e sufocadas em suas reivindicações pelas forças da “dita dura”, e alguém, em seu nome, deveria se insurgir. Traz-se, isto sim, o histórico profissional do metalúrgico Luiz Inácio da Silva que, como torneiro-mecânico, pouco produziu, em termos de operosidade e produção, a quem, indiscutivelmente, lhe respondia pela contra-prestação daquele que deveria ser o seu trabalho: o empregador.
Lula nunca se mostrou dos mais afeiçoados ao trabalho. Desde aqueles idos não escondia o desconforto e o enfado para com a rotina das máquinas e dos tornos. Sonhava, quem sabe, com uma buchada de bode num domingo preguiçoso, às margens do Tietê, ou nas areias de Cubatão. Hoje, sem esconder o desconforto com o dia-a-dia do Planalto, Lula da Silva planeja viajar pelo Brasil inteiro.
E o PT rotulava o presidente Efeagá de “Fernando Viajante Cardoso” (ou algo parecido). E agora?
Então, tá! Deixa o homem viajar.