Diversidade cultural – Dom Jaime Pedro Kohl
Devemos reconhecer que este tema pouco esteve presente em nosso passado formativo, nem na família e nem na escola. O diferente, mais que riqueza, sempre foi visto como algo conflitivo e algo a ser evitado. Graças ao bom Deus, isso foi sendo superado e chegamos ao entendimento que sem o diferente a ser conjugado não haveria motivos para o diálogo, mas somente realidades justapostas e pouco dinâmicas.
Seguindo o pensamento do professor Memore da revista “Mundo e Missão”, damos mais um passo nessa importante reflexão sobre a multiculturalidade. Ele fala da diversidade cultural como patrimônio comum da humanidade, a partir da afirmação da UNESCO: “Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica é para a natureza”.
Começa afirmando que “a composição multicultural da sociedade hodierna, favorecida pela globalização, tornou-se uma sociedade sem volta. A presença concomitante de diferentes culturas é extremamente positiva quando o encontro delas é visto como uma fonte de enriquecimento mútuo. Porém, pode ser um grande problema quando o multiculturalismo é percebido como uma ameaça para a coesão social, a proteção e o exercício dos direitos de indivíduos ou grupos.
Apesar de possíveis conflitos emergentes nesse novo ‘caldo cultural’, faz-se cada vez mais urgente acreditar e investir na ‘Educação à Mundialidade e Interculturalidade’; com o objetivo firme de derrubar os muros do etnocentrismo que fecha o horizonte ao ‘Outro’, e de abrir novos caminhos fundamentados no relativismo cultural, que faz tomar consciência dos próprios limites culturais.
As diferenças culturais não são a causa dos conflitos que agitam o mundo. Estes têm raízes políticas, econômicas, étnicas, religiosas, territoriais e não exclusiva ou principalmente culturais. O elemento cultural, histórico e simbólico é muitas vezes usado para mobilizar as pessoas e até estimular a violência enraizada em competições econômicas, conflitos sociais, absolutismo político.
A crescente caracterização multicultural da sociedade e o risco de que, contra a sua verdadeira natureza, as mesmas culturas são utilizadas como elemento de contraste e conflito, são fatores que empurraram ainda mais para a tarefa de construir relações interculturais profundas entre pessoas e grupos e ajudar a tornar as ‘Instituições de Ensino’ em locais privilegiados do diálogo intercultural.
O grande patrimônio cultural da humanidade deve encontrar nas escolas acolhimento, proteção, valorização e instrumento para se recriar em um diálogo aberto, sincero e criativo”.
Pode parecer uma reflexão teórica que pouco tenha a ver conosco, mas muito importante para lançar pontes e estabelecer diálogos que conduzem ao verdadeiro bem comum.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório