Divisões
Pense na seguinte situação: você está andando com seu carro, ou mesmo andando na rua, quando se dirige a você um indigente. Um homem aparente normal, com seus 30 e poucos anos, mal vestido, sujo. Então, este homem lhe pede dinheiro para comer.
Infelizmente ainda é uma situação bastante factível de ocorrer. Esta situação pode dividir-se de duas maneiras. Eu poderia dizer que este pobre homem é fruto de um sistema injusto, que tem como subproduto a pobreza. Esta pobre pessoa não tem culpa alguma de se encontrar nessa situação. Posso ficar com pena e dar-lhe dinheiro para que compre, supostamente, comida. Ou eu poderia pensar que este homem não tem vergonha na cara, que deveria procurar um trabalho e se virar, afinal de contas qual seria minha culpa por ele estar nessa condição?
Você deve concordar que são visões totalmente antagônicas de uma mesma situação. O ser humano é muito divergente e nossas opiniões são tão inconstantes e imprevisíveis. Isso gera uma série de dificuldades.
É o caso, por exemplo, das sociedades. Pegue o caso do ousado empresário Eike Batista, que tem diversos investimentos em projetos ainda em fase inicial, em segmentos ligados a recursos minerais, infra-estrutura e energia no Brasil. Imagine se ele fosse sócio do megainvestidor Warren Buffet (homem mais rico do mundo), um senhor reconhecidamente conservador e que pauta seus investimentos em empresas com histórico de rentabilidade elevada por longos anos. Provavelmente a divergência entre esses homens mais ricos do mundo poderia fazer com que essa sociedade ruísse rapidamente.
Visões divergentes só tendem a gerar divisão.
Essas diferentes visões a respeito das coisas que nos cercam determinam a nossa forma de encarar a vida. E o que faz com que tenhamos visões diferentes? Em geral é nossa cultura e o conjunto social que determina nosso caráter e nossas características como pessoas.
Uma pessoa que trabalhe de caixa em um supermercado, por exemplo, pode não conseguir dormir à noite em função de ter dado o troco errado para uma pessoa. Agora o presidente de um grande banco americano pode ter um sono formidável, mesmo sabendo que enriqueceu com a perda de várias pessoas. Estranho, não? Pois na sexta-feira fomos surpreendidos com a notícia de que o órgão que regula a atividade de mercado de capitais nos EUA (SEC) acusou o grande banco de investimento Goldman Sachs de fraude em produtos financeiros, alegando conflito de interesses. É um pouco mais do mesmo, ou seja, grandes bancos americanos lucrando ou tendo feito algum tipo de operação esdrúxula estruturada por uma meia dúzia de “mestres” em finanças que trabalham nessas instituições.
O mercado não gostou muito da novidade e na semana o Ibovespa teve queda de 2,79%.
Ainda nesta semana tivemos dados muito bons da economia chinesa, demanda forte para títulos de dívida da combalida economia grega, números bons do banco americano JP Morgan. Ainda assim investidores preferiram olhar para a possibilidade de aperto monetário na China em função da economia aquecida, ou para as altas taxas de juros pagas na emissão dos títulos gregos, ou ainda para os pedidos de auxílio desemprego.
Enfim, tivemos uma semana difícil onde o foco esteve na interpretação negativa do cenário que se apresentou.
Como diz aquela expressão: “rapadura é doce mas não é mole!”.