Doenças Psicossomáticas – Dr. Sander Fridman
A proximidade entre fontes identificáveis de angústia e a ocorrência de sintomas físicos mais ou menos intermitentes faz lembrar do conceito das doenças psicossomáticas.
O paciente estaria expressando seu sofrimento emocional através da linguagem das doenças, como se fossem um código, quando é proibido ou impossível falar.
Queixas de falta de ar, bola na garganta, opressão no peito, que não aparece nos exames, mas também episódios de dor no peito, chiado no peito, diarréia, convulsões, com alterações evidentes aos exames, podem ser entendidos como expressão de emoções. Tumores, canceres, Alzheimer, etc, tembém apresentam teorias pelas
quais as emoções as causam, agravam ou atenuam. É conhecida a eficácia eventual de benzeduras ou hipnose contra certas verrugas, da hipnose como recurso de anestesia em certos procedimentos.
A separação entre mente e corpo é especialmente didática, mas também tática. Intervenções e alterações no corpo – medicamentos, doenças – modificam o funcionamento mental, e vice- versa, representando acessos para a ajuda quando necessária. De resto, mente, cérebro, corpo e ambiente constituem um todo funcional interdependente.
Um erro clássico e muito comum a ser evitado, no entanto, é o de apontar, precipitadamente, para causas emocionais ou psiquiátricas, diante de sintomas físicos ou neuropsiquiátricos obscuros. Nestes casos, é altamente conveniente que o psiquiatra que recebe estes casos tenha um especial amor pela medicina geral, e não se intimide em investigar detidamente outras hipóteses causais, e tratá-las adequadamente, quando oportuno.
Dores pélvicas femininas eram tipicamente atribuídas no passado a angústias sexuais, mas, hoje, só raramente, com o avanço da medicina diagnóstica.
Alterações de tipo neurológico intermitentes, antes atribuídas a causas emocionais, hoje restam melhor diagnosticadas e tratadas. A própria epilepsia foi inicialmente resgatada dos grandes hospitais psiquiátricos ingleses.
Vemos crescer em importância fatores alimentares, ecológicos, e ambientais que impactam a um só tempo corpo e mente, como, por exemplo, as bactérias que habitam nosso intestino, em proporções mais ou menos favoráveis à saúde. A medicina do estilo de vida modifica nosso organismo, bactérias e saúde. Desnecessário explicitar o impacto do estado emocional sobre o estilo de vida, e vice-versa.
A psicossomática ampliou-se, e deve ser entendida, hoje, como a medicina do ser humano integral em sua cultura, sua missão e seu ambiente.
Dr. Sander Fridman é Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Atende Neuropsiquiatria, Psicanálise Cognitivista, Transtornos Sexuais e Relações Conjugais.