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Economista Ivan Ramalho rebate alegada paralisia do Mercosul

O alto representante-geral do Mercosul, economista Ivan Ramalho, defendeu hoje (8) a continuidade do bloco, apesar da preocupação demonstrada pelo empresariado exportador da região no 33º Encontro Nacional do Comércio Exterior (Enaex), promovido no Rio de Janeiro pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Com um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de US$ 3 trilhões, os cinco países-membros do bloco (Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Venezuela) respondem por 83% do PIB da América do Sul e totalizam 282 milhões de habitantes. O Mercosul está em expansão, disse o economista, com o processo em curso de adesão plena da Bolívia, a associação da Guiana e do Suriname, além de acordos consolidados com o Chile, Peru, Equador e a Colômbia. Dessa forma, refutou a alegação de paralisia do Mercosul, apontada por representantes de entidades exportadoras.

Ex-secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ramalho disse que as estatísticas oficiais brasileiras mostram que, no ano passado, o maior superávit comercial do Brasil, da ordem de US$ 9 bilhões, foi obtido na região, onde “o Mercosul tem, do ponto de vista comercial, importância extraordinária para o Brasil”. Ramalho salientou, em entrevista à Agência Brasil, que mais do que o saldo comercial, sobressai a qualidade da pauta, “que as pessoas não podem ignorar”.

De acordo com Ramalho, o Brasil consegue uma qualidade, na pauta de exportação com o Mercosul, que pode ser considerada de alto valor agregado, uma vez que 80% do total exportado para o bloco são produtos manufaturados (automóveis, máquinas e equipamentos, dentre outros), enquanto para os Estados Unidos, Ásia e União Europeia predominam produtos semimanufaturados e básicos.

“São setores que geram empregos no Brasil, que têm remuneração elevada”, ressaltou. Muitos estudos, disse ele, indicam remuneração média de R$ 5 mil por mês, enquanto nas exportações para outras áreas do mundo, em que prevalecem produtos primários e commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação internacional), a faixa salarial é bem menor.

Ivan Ramalho observou que a participação da indústria é grande no Mercosul, em parte devido à união aduaneira existente entre os países-membros, pelo fato de ter uma Tarifa Externa Comum (TEC) que estabelece vantagem comparativa para o produto de cada país do bloco. Salientou também que o Mercosul não é só negócio. “Ao contrário da maioria dos acordos existentes no mundo, o Mercosul tem uma preocupação social e de cidadania muito grande”.

O presidente da AEB, José Augusto de Castro, disse que é preciso definir se o Mercosul é um bloco comercial ou ideológico. “O setor empresarial privado tem uma ideia clara do que é o Mercosul e o que ele pode nos oferecer. Temos que buscar uma reflexão sobre o que queremos, mas não pode ter uma resposta muito demorada, porque pode ser tarde”, advertiu. Os empresários estão preparando um documento com sugestões de revisão do processo do Mercosul.

Ramalho lembrou que foi iniciativa do Brasil, por ocasião da Cúpula do Mercosul – em Brasília, em 2012 – constituir o fórum empresarial simultâneo à reunião do conselho de ministros e à cúpula presidencial para que os empresários apresentem suas preocupações e reivindicações. Ele acredita que, nas próximas cúpulas, a iniciativa seja institucionalizada e os empresários ouvidos. O alto representante-geral do Mercosul concordou que o bloco pode ser aprimorado e evoluir em algumas questões.

“Se os empresários apresentarem propostas no sentido de modernizar ou aperfeiçoar alguns dos instrumentos em curso no Mercosul, certamente todos os países vão examinar. A criação do fórum do Mercosul foi exatamente com esse objetivo, mas não há restrições a que outros fóruns venham a encaminhar também suas propostas”, disse, e informou que a próxima Cúpula do Mercosul será na Argentina, que assumiu a presidência pro tempore do bloco, mas ainda não estão definidas a data e a cidade que sediará a reunião.

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