El Niño atinge intensidade máxima: veja os reflexos do clima no Sul
O ano de 2024 se inicia com o fenômeno El Niño atingindo o auge de sua intensidade, apresentando uma anomalia de temperatura de superfície do mar apenas 0,1ºC abaixo do pico semanal observado em novembro.
Esse dado corrobora o padrão histórico do El Niño, que tipicamente alcança o ápice por volta do Natal.
De acordo com o último boletim divulgado pela agência climática dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Centro-Leste, situa-se em 2,0ºC.
Este valor positivo está na faixa que transita do El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC) para o muito forte (2,0ºC ou mais, considerado Super El Niño).
Essa região manteve anomalias de Super El Niño por semanas, atingindo +2,1ºC na semana de 22 de novembro e +2,0ºC na semana de 29 de novembro.
Posteriormente, registrou uma queda para +1,9ºC na semana de 6 de dezembro, retornando ao patamar de Super El Niño com +2,0ºC nas semanas de 13, 20 e 27 de dezembro de 2023.
Por outro lado, na região Niño 1+2, a anomalia é de +0,8ºC.
O El Niño costeiro, próximo aos litorais do Peru e Equador, teve início em fevereiro, alcançando sua máxima intensidade no inverno. A maior anomalia neste ano nessa região foi de 3,5ºC, na semana de 19 de julho.
A intensidade máxima do El Niño não significa que seus efeitos se concentrem neste período. No Sul do Brasil, seus efeitos são mais significativos na chuva excessiva durante a primavera e o outono seguintes ao fenômeno.
Já no Norte do país, onde induz à seca na Amazônia, a escassez de chuva ocorre nos meses do chamado verão amazônico, correspondente ao inverno e parte da primavera na maior parte do Brasil.
Comparativamente aos eventos de Super El Niño anteriores, o fenômeno atual não é tão intenso. Os registros da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA revelam que, nos picos de eventos anteriores, as anomalias atingiram +2,5ºC em 1982-1983, +2,2ºC em 1997-1998 e +3,0ºC em 2015-2016.
Segundo o índice ONI (Oceanic Niño Index) da NOAA, referência trimestral para as condições do Pacífico, o evento atual ainda não alcançou a condição de Super El Niño. O último dado disponível, de setembro a novembro de 2023, indicou +1,8ºC.
Embora menos intenso que eventos anteriores, os efeitos do El Niño não necessariamente são menores.
Os impactos climáticos não são proporcionais à magnitude das anomalias do Pacífico.
O El Niño deve influenciar o clima durante boa parte do primeiro semestre de 2024, segundo a MetSul.
A tendência é enfraquecer a partir de janeiro e fevereiro, porém, mesmo mais fraco, ainda pode impactar a chuva e a temperatura no outono.
As projeções indicam que o Pacífico alcançará um estado de neutralidade em meados de abril ou maio, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia. A segunda metade do outono e o início do inverno de 2024 ocorrerão sob um estado neutro, sem El Niño ou La Niña.
O El Niño, La Niña e a neutralidade trazem consequências globais, alterando o clima e resultando em eventos extremos, como tempestades severas ou clima ameno, seca ou inundações. Essas variações climáticas afetam ecossistemas, comunidades humanas e podem gerar consequências econômicas e políticas significativas, como escassez de alimentos, incêndios florestais e conflitos políticos.
No Sul do Brasil, o El Niño aumenta o risco de chuvas intensas e enchentes, enquanto La Niña favorece a estiagem. Historicamente, El Niño resulta em melhores safras agrícolas na região, embora as perdas possam ser maiores sob La Niña.
Esses fenômenos, tão relevantes para o clima global, têm suas raízes na observação dos pescadores peruanos, que notaram uma corrente oceânica quente nos anos de El Niño, impactando sua atividade pesqueira e, por consequência, a subsistência das comunidades costeiras. A expressão “El Niño”, em espanhol, faz referência ao nascimento de Cristo, coincidindo com o período quente observado no oceano durante o Natal.
O episódio mais intenso recente foi entre 2015 e 2016, conhecido como “El Niño Godzilla”, ocasionando grandes enchentes no Sul do Brasil e picos de cheia no Lago Guaíba, em Porto Alegre, desde 1941.
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