A safra do camarão decepciona mais uma vez os pescadores artesanais de Rio Grande, no Litoral Sul do Rio Grande do Sul, devido aos reflexos das fortes enchentes de 2024.
O cenário, que parecia promissor no início da temporada, acabou mergulhando em frustração, perdas econômicas e crustáceos pequenos, com atraso no desenvolvimento e alta nos preços ao consumidor final.
Na pacata comunidade pesqueira da Vila São Miguel, dezenas de embarcações amanhecem ancoradas, sem rumo. É um retrato amargo do impacto climático sobre a economia local.
O prejuízo da safra do camarão se deve ao excesso de chuvas que marcou o segundo semestre de 2023 e culminou na enchente histórica de maio de 2024, que elevou os níveis da Lagoa e impediu a entrada precoce das larvas de camarão.
Essas larvas, originárias do litoral catarinense, chegam ao RS por correntes marinhas na primavera e necessitam de condições específicas — como salinidade adequada e ausência de chuvas — para se desenvolverem na fase juvenil dentro da lagoa.
A entrada das larvas na Lagoa dos Patos, que geralmente ocorre entre setembro e outubro, foi adiada para dezembro devido à permanência prolongada da água doce.
Com isso, o ciclo de crescimento dos camarões ficou comprometido. O resultado: uma captura formada majoritariamente por indivíduos pequenos e imaturos.
O tempo necessário para que os camarões atinjam o tamanho comercial — cerca de nove centímetros — não foi respeitado, e as redes lançadas desde fevereiro pouco trouxeram de retorno.
Rotina de pesca
A rotina de pesca, que chega a durar 12 horas por dia, inclui fixação de redes em estacas ao entardecer e instalação de luzes artificiais para atrair os crustáceos durante a madrugada. Mesmo com esse esforço, os resultados têm sido desanimadores.
Safra do camarão
A Prefeitura de Rio Grande estima que uma safra considerada boa possa render cerca de 5 mil toneladas de camarão aos 3,5 mil pescadores artesanais licenciados na cidade.
Neste ano, no entanto, a expectativa é de que o volume colhido não ultrapasse a metade disso.
O secretário da pesca de Rio Grande, Cláudio Costa, confirma a dimensão do problema: “As condições ambientais desfavoráveis comprometeram toda a dinâmica da lagoa. Algumas áreas tiveram alguma captura, mas em muitas outras, praticamente nada foi pescado”.
A situação crítica levou os comerciantes locais a buscar camarões em cativeiros de Santa Catarina, principalmente em Laguna.
O preço, por consequência, disparou na Semana Santa, devido à baixa oferta e aos custos acumulados pelos intermediários.
A previsão é de que a temporada termine oficialmente em 31 de maio, conforme autorização federal.
Até lá, o sentimento predominante entre os pescadores é de desalento.
A esperança é que, nos próximos ciclos, a natureza seja mais generosa com quem dela tira o sustento.