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Enfim, o Tibet

Mochilas devidamente abastecidas – agasalhos de pesada lã, mantimentos, chás –, Alef e seus novos amigos iniciaram o caminho de Lhassa. Quando alcançarem esta cidade Lama Kazi terá terminado sua peregrinação mística.

Ao ingressarem na Mata do Himalaia, através da longa e sinuosa trilha que contornava o Rio Tibete, a densa névoa e o magistral silêncio que dominavam aquela paisagem impuseram, por si só, o devido respeito e veneração dos peregrinos. As águas mostravam-se pródigas nos vales do Himalaia.

Deslumbravam-se, a pequenos espaços, cascatas, pequenos rios, lagos e fontes.
A Floresta de Nathu-La, por sua vez, mostrava-se aterradora: as trilhas, à medida que venciam as alturas das montanhas, tornavam-se estreitas e perigosas.

Quando o grupo atingiu os três mil e novecentos metros de altitude percebeu que desaparecera todo e qualquer vestígio de vegetação. O frio intenso e os abismos a poucos passos do caminho obrigaram aos viajantes a prosseguirem numa marcha mais lenta.

De repente, eis que surgiu à vista dos caminhantes uma antiga construção de pedra: era o Mosteiro de Kargyompa. Lamas e noviços acorreram ao grande portão para desejarem as boas-vindas e, como reza a tradição, trocarem echarpes de seda branca com os recém-chegados.

Na nova etapa da viagem, os peregrinos alcançaram o Lago Padma-Pulgo-Cho, o Lago dos Lótus brancos, azul-claros, rosas e carmesins. Lama Kazi ajoelhou-se diante das flores. Ainda ajoelhado, dirigiu-se a Alef e explicou:

– Nós, os tibetanos, vemos nas flores do lótus a representação simbólica da Suprema Divindade. Assim, é meu dever saudá-las, como determinam nossos ritos. – Colheu um belíssimo ramo carmesim e o ofertou a Alef. – Recebe-a, pois ela é a flor sagrada de toda a Ásia.

– Para os tibetanos a flor de lótus simboliza exatamente o quê, além do que o Lama sabiamente nos explicou – quis saber o espanhol Plácido.

O Lama Dawa Kazi permaneceu por um minuto ou dois em profundo silêncio, como se procurasse ouvir as instruções de algum Ente invisível:

– Para os tibetanos, a flor de lótus é o emblema da difusão da vida e da fertilidade da terra. Está relacionado com as vibrações do Sol Nascente.

Voltando-se para o Leste, o Lama prosseguiu:

– Quando o Astro-Rei surge no horizonte, o lótus se abre por sobre as águas.

Dirigindo-se na direção do Oeste ele complementou:

– Quando o Sol desaparece, a flor se fecha. Dizem que a raiz do lótus fundida na lama representa a vida material, o ser humano que, com os pés presos na terra, eleva seu pensamento ao Infinito.

O silêncio somente muito tempo depois fora quebrado quando Isis, numa reverência agradecida dirigiu-se ao Lama:

– Foi providencial pararmos aqui, Lama. Somente assim poderíamos apreciar esta paisagem deslumbrante – e repetiu a saudação antes feita pelo Lama Kazi, no que foi seguida pelos demais companheiros.

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