Entrevista com o Surfista Sidão Tenucci
Mais uma personalidade de peso do mundo do surfe será entrevistado pelo site LITORAL MANIA.
SIDNEY LUIZ TENUCCI JR., mais conhecido como SIDÃO TENUCCI, traz para os internautas do site um pouco da vasta experiência pessoal dele, além da própria história do surfe brasileiro, da qual ele tem grande participação.
Formado em Jornalismo pela ECA – Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo), Sidão escreve para revistas especializadas desde a Brasil Surf e o jornal Surf News, em 75. Também colaborou com as revistas Pop, Fluir, Trip, Hardcore, AlmaSurf, Venice Mag e Surfer.
Surfista há 40 anos, pai de duas filhas, Juliana e Isabella, ele já viajou para mais de 50 países, tendo surfado em muitos deles. Também foi o primeiro surfista brasileiro a surfar Puerto Escondido, no México, e El Salvador, ambos em 74, com os amigos Thyola e Zé Roberto Rangel, além de ter sido pioneiro no desbravamento das ondas do Sri Lanka (81), e Huahine, no Tahiti (83).
Em 78 fundou a Op (Ocean Pacific), considerada a primeira grande surfwear do Brasil, e praticamente inaugurou aquele que seria um dos maiores mercados do mundo, o brasileiro. Sidão também foi o responsável pelos memoráveis campeonatos OP Pro, de 85 e 86, tendo o segundo marcado o recorde mundial de inscritos até hoje, com 760 atletas.
Ele é um dos fundadores do circuito brasileiro profissional, inaugurado em 87 com o OP Pro na Joaquina, Florianópolis (SC), além de ter realizado o primeiro campeonato nacional no arquipélago de Fernando de Noronha (PE), o OP Pro Noronha de 95.
Com a OP, Sidão patrocinou alguns dos maiores expoentes do surf brazuca e dos esportes radicais, como Ricardo Bocão, Tinguinha Lima, Davi Huzadel, Luis Roberto Formiga, Dadá Figueiredo, Daniks Fischer, Sávio Carneiro, os irmãos Taiu e Totó Bueno e Christian e Dodô Von Sydow, etc.
Atualmente, o empresário trabalha também com a compra e venda de empresas (Merge & Acquisitions), foi ator coadjuvante no filme “Asa Branca, Um Sonho Brasileiro”, de Djalma Limonji Batista, com Édson Celulari, Walmor Chagas e Eva Wilma e publica, ainda neste ano, junto com o fotógrafo Klaus Mitteldorf e o designer gráfico David Carson, o livro “Alma Aquatika”. Seja bem-vindo Sidão!
Acompanhe a entrevista realizada pelo repórter e surfista MARCELO RECH (PAULERA):
1) Nome completo – SIDNEY LUIZ TENUCCI JR, vulgo SIDÃO TENUCCI.
2) Idade (não vale mentir, rs…)?
53 anos.
3) Quando o surf entrou na tua vida?
Em 1968, no verão. No Guarujá, mais precisamente na Praia das Pitangueiras. Vou fazer… 40 anos de surf esse ano.
4) Fale um pouco sobre os campeonatos de surf, vitórias, derrotas, participações etc.?
Quando eu comecei quase não havia campeonatos em função do estágio embrionário do surf no Brasil. Competi alguns até me colocando bem, mas logo vi que não era o meu lance! Comecei então com a OP em 79 e inauguramos os campeonatos com abrangência nacional e mídia mais forte em 85. Dá um livro escrever sobre o que rolou nos OP PRO. Seja os da Joaquina (Florianópolis colocada na mapa do Brasil do surf, coisa que até aquele momento era apenas um eco distante de paraíso possível…).
5) Em quem você se inspirou no início da carreira?
De empresário do surf, ninguém, porque não havia no Brasil. De escritor, desde Gabriel Garcia Márquez, até Dostoiévski, passando por Hermann Hesse, Lin Yutang, etc.
6) Ídolos que você não esquece?
Não diria que sejam “ídolos”, mas pessoas com que tive empatia dentro do surf world.
– Barry Kanaiaupuni dando bottom-turns clássicos e elegantes em Sunset.
– Postura pessoal e no line-up de Pipeline de Gerry Lopez.
– Fluidez e elegância de havaianos de pelo menos 140 kilos surfando com leveza as ondas de Ala Moana.
7) Melhor campeonato?
Está difícil… OP PRO 85 pela vibe inovadora, acolhedora, pelo altíssimo astral, pelas pessoas, pela aura de desbravamento de um novo destino para todos nós.
8) Melhor onda da tua vida?
ÍIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! Vou dizer algumas:
– Kahuku 8 pés, no Hawaii. Meu amigo Dragão vendo o drop remando no canal. Vento Kona Wind detonando Pipe e Sunset. Nessa condições Kahuku e Mokuleia recebem esse vento de frente.
– Jock´s Reef, em Oahu. Drop insano, no ar. Gerry Lopez passando por baixo da onda.
– Honolua Bay. Vindo lá do pico até o inside. 8 pés, glass, pouca gente na água.
– Arugan Bay, Sri Lanka,….. TODAS as ondas que peguei naquelas duas semanas.
– Kuta Reef 6/8 pés, 1981, uma das ondas mais perfeitas do mundo, com uma 5'10'' parecendo um sapato de Aladim tangenciando as seções.
9) Melhor praia?
Ilha deserta nas Maldivas. Tavarua, em Fidji. Maresias quando está deserto.
10) Pode falar um pouco sobre as tuas participações no mundo do surf, fora dágua?
Inaugurei a OP em 1979. Daí para frente é tanta coisa que não dá para resumir.
11) Como era o surf quando você iniciou?
50, talvez 100 caras surfando no Brasil. Rio, São Paulo e Santos. Só. Ninguém via futuro naquilo.
12) Alguma frustração no mundo do surf?
Nenhuma.
13) O surf no Brasil se igualará algum dia com as grandes potências do esporte?
Tudo indica que sim.
14) Para você quem foi o melhor surfista no Brasil?
Tinguinha Lima.
15) O melhor de todos.. Do mundo?
Não sei.
16) Como é dividir o surf com o trabalho e a família?
É possível? Você não divide, você multiplica. Um ajuda o outro. É mais fácil ter os dois do que só um.
17) Surf é……………?
Mais uma expressão de Deus nesse nosso pequeno universo.
18) Já brigou com alguém dentro d'água?
Nunca. Mas já tentaram brigar comigo… Uma ou duas vezes. Não deu em nada.
19) Curtes que tipo de som?
Muito rock progressivo dos anos 70, quando os caras tinham uma base musical clássica antes de se aventurarem a fazer algum tipo de som. Pink Floyd, Yes, Emerson, Lake & Palmer, Genesis. MPB de qualidade. Toco violão e até componho algumas músicas com o meu irmão que é músico. Minha filha mais velha é cantora.
20) Um conselho para aqueles que estão iniciando no surf.
Surfem com amor. Por vocês, por ninguém mais. É um presente que estarão se dando para toda a vida.
21) Para você surf é estilo, esporte ou modo de vida?
Embora já tenha tentado, não consigo me identificar com esses tipos de definição sobre o surf. Soam sempre “capengas”, algo está faltando. Está inserido na minha vivência como ser humano, como qualquer outra coisa, às vezes, de modo especial.
22) Sua opinião sobre o futuro do surf.
Não tenho a mínima idéia. Se eu tentar exercer esse tipo de futurologia, com certeza vai acabar se confundindo com os meus desejos.
23) Fale um pouco sobre o seu livro.
“O Surfista Peregrino” foi uma necessidade de dizer o que eu percebi na vida da estrada do surf (em colaboração estreita com o próprio Peregrino). Uma maneira de tentar expressar as sutilíssimas nuances que surgem magicamente quando você se propõe a trilhar esse estilo de vida. O Peregrino vai das Maldivas para o Sri Lanka e daí para a Índia. O que lhe acontece e como ele age e reage ao mundo externo e ao seu conturbado e por vezes sereno mundo interno, são relatadas da maneira mais fiel possível.
24) Uma mensagem aos leitores do site LITORALMANIA – “Nunca se esqueça de quem você é.”