Esperanças para pacientes com Alzheimer – Por Jayme José de Oliveira
Coletamos ao longo da vida um imenso repertório de memórias em nossas mentes. Sabemos hoje que as memórias são captadas pela vasta rede de neurônios (aproximadamente 86 bilhões, cada qual com potencial de se interligar a outros 20.000 por meio de sinapses). Pode, à primeira vista parecer absurdo, mas o número de sinapses possíveis num único cérebro humano ultrapassa o das estrelas existentes no Universo. Impossível calcular sem o auxílio dum supercomputador, daqueles que realizam bilhões de cálculos por segundo. Como essas combinações são aleatórias, perfazem um número que, realmente, ultrapassa o das estrelas do Universo. Para termos uma pálida ideia, as combinações da megassena são originadas por 60 números, agregados de 6 em 6. Convém ressaltar que não há ligação física entre os neurônios, mas uma separação média de 20 nanômetros (20 milionésimos de milímetro), a transmissão é efetuada por meio de neurotransmissores. Quando o estímulo é repetido aumenta sua efetividade e origina a memória que será armazenada no hipocampo, estrutura situada profundamente no cérebro.
Quando você memoriza algo – um endereço, por exemplo – aciona um conjunto de neurônios que formam conexões entre si. Se esses laços são desfeitos a informação é perdida e você não consegue se lembrar dela. O esquecimento é parte essencial da vida.
Neurologistas norte-americanos conseguiram recuperar memórias perdidas em animais muito simples: lesmas do gênero “Aplysia”, que vivem no mar. Aplicaram choques elétricos em nervos sensoriais que formaram conexões com nervos motores, que fazem a lesma se retrair. A lesma cria uma memória que dura alguns dias, mesmo na ausência do choque. A seguir elas receberam injeções de queleritina, uma substância que desfaz as ligações, eliminando as sinapses, destruindo a memória. Quando, posteriormente tomaram injeções de serotonina (neurotransmissor também presente nos seres humanos) as conexões se refizeram e a memória foi recuperada.
Além de provar que é possível recuperar a memória destruída, o estudo levanta uma hipótese instigante. Talvez as memórias não sejam armazenadas nas sinapses e sim dentro dos neurônios. Isso pode ser uma esperança para quem sofre de Alzheimer, uma doença que bloqueia as sinapses, levando à perda da memória. “Se encontrarmos uma maneira de restaurar as sinapses desses pacientes, suas memórias poderão retornar”, conjetura o neurocientista David Glanzman, líder do estudo.
Na hipótese de ficar comprovado que a memória pode ser deletada com a queleritina e readquirida com a serotonina – ou similar – poderemos antever, em prazo não demasiado longo, a concretização em definitivo da vitória sobre a Doença de Alzheimer. Quando isso for atingido poderemos, sim, falar no prolongamento da vida em condições saudáveis – física e intelectualmente – por um tempo cada vez mais dilatado. A imortalidade relativa abordada em colunas anteriores não será mais uma quimera.
Como todos os estudos relacionados às funções do organismo humano, entre o primeiro vislumbre e sua aplicação é necessário percorrer um longo caminho a fim de evitar danos posteriores, devido a efeitos colaterais de longo prazo. De qualquer modo, sempre que uma tênue luz aparece para iluminar um ponto obscuro refulge uma esperança de, cedo ou tarde, melhorar as condições de vida.
Há riscos? Há! Quando Louis Pasteur intuiu o princípio da vacina, não titubeou, seguiu em frente. Após os resultados desastrosos do uso da Talidomida em gestantes, no fim da década de 1.950 gerando teratologias irreversíveis, as autoridades redobraram os esforços no controle dos estudos pré-lançamento. Atualmente a Talidomida é indicada em mais de 60 tratamentos: lúpus, AIDS, transplantes de medula, artrite reumatoide entre outros. É terminantemente vedada a gestantes.
Aplysia: Aprendizagem e memória – 3min28seg
https://www.youtube.com/watch?v=6zBAA49InjU
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado