Faixa de gaza
Aqueles que vivem no Rio, como eu, já devem ter ouvido falar a respeito de uma suposta “faixa de gaza” existente entre favelas no Complexo do Alemão. O Complexo do Alemão recebe esse nome por ter sido primeiramente ocupado por um polonês que adquiriu lotes de terra numa zona rural do rio na década de 20. A área foi se desenvolvendo e posteriormente ele vendeu seus lotes de terra. Um curtume foi instalado na região atraindo uma série de famílias de operários. A região, e em especial os morros, foram sendo ocupados de forma desordenada tornando-se uma grande favela. Até aí nada de absurdo, algo normal em uma série de cidades brasileiras, apenas agravada pela característica geográfica do Rio de Janeiro.
No entanto, na década de 80, com a entrada da cocaína nos morros, a situação se alterou significativamente. A droga fez com que grandes bandidos prosperassem e tomassem conta da região. No entanto, apesar do crime ser organizado, existem brigas entre diferentes facções da região e isso faz com aquela região seja conhecida dessa forma.
E aí você se pergunta o que nós temos a ver com isso?
Realmente não sei. Da mesma forma que na faixa de gaza verdadeira pessoas inocentes passam por situações de perigo, sem nenhum motivo aparente. Semelhantemente à verdadeira faixa de gaza, no Rio de Janeiro existe um espaço dominado pelo medo e incerteza, onde pessoas têm medo sequer de parar seu carro para trocar um pneu.
Pois é, na bolsa, apesar da comparação parecer exagerada, existe uma faixa de gaza psicológica onde a guerra entre comprados e vendidos se acentua. São os famigerados 70 mil pontos. Desde maio e junho de 2008 quando soltávamos confetes em função de termos sido considerados um país com investment grade, não voltamos a este patamar. Parece que existe certo condicionamento dos investidores a questionarem os bons fundamentos e qualquer tipo de otimismo, quando nos aproximamos dos 70 mil pontos. É como se até os 69 mil pontos tivéssemos fundamento econômico que sustentasse a alta, a partir daí os investidores ligam o botão do ceticismo e nossa bolsa estaciona ou recua.
Esta semana chegamos a visualizar a Canaã sagrada, a outra margem do rio, aquela zona não mais de conflito, mas sim de confiança. No entanto, o mercado não se sustentou e encerramos com queda de 0,74% aos 68.829 pontos. Até tivemos algumas notícias e indicadores positivos, mas isto não foi suficiente.
Por hora, parece que enquanto não tivermos uma notícia “bombástica” ou que realmente dê uma sacudida nos mercados, permanecemos nessa zona nada agradável e de conflito… de ideias e de interesses.