Familicídio – Dr. Sander Fridman
Familicídio é um fenômeno raro, tendo sido registrados 4 casos por ano em todo o Canadá (1995); 3 por ano em toda a Inglaterra e País de Gales (1995); 4 casos por ano em toda a Itália (1992-2005); e 23 casos por ano em todos os EUA (2013).
Entretanto, 2 casos ocorridos recentemente, de grande repercussão, em um intervalo de menos de uma semana, na comparativamente pequena população da região metropolitana de Porto Alegre, merecem uma reflexão e um pouco de informação.
O Familicídio pode ser entendido quando um cônjuge, ou ex-cônjuge, e ao menos uma criança, são mortos pelo outro, que quase sempre se mata logo depois, ou tenta.
Mulheres são 4 vezes mais frequentemente autoras em familicídios do que em outros tipos de homicídios.
Mesmo assim, homens seguem autores 4 vezes mais do que mulheres, em contraste com 19 vezes, em outros homicídios.
O familicídio poderá representar eventualmente uma extensão do fenômeno do suicídio, e, como tal, do desespero depressivo que não encontra qualquer meio possível para evitar o pior. O pessimismo delirante depressivo levando aos maiores medos, à certeza da catástrofe incontornável, à convicção da inevitabilidade do caos, de que a família sofrerá consequências insuportáveis, vistas assim, por conta da doença mental, como piores até do que a morte, empresta ao familicídio as feições de um homicídio/suicídio “piedoso, altruísta”.
Poderá de outro modo decorrer do irresistível desejo de retribuir por um ato percebido como injusto, devido à convicção delirante do autor ou autora de que nenhum grau de conformidade será possível face aos prejuízos ou à traição causada pelo cônjuge ou ex-cônjuge, que assim é punido com a morte, juntamente com sua prole ou outros familiares, acompanhando o suicídio do autor, que se vê como vítima desesperada – um homicídio/suicídio vingativo.
As estatísticas de suicídio no Rio Grande do Sul, as maiores do Brasil, na divisão por sexos, acompanham as distribuição das autorias por familicídios: 80% por homens e 20% por mulheres.
Uma importante majoração nas taxas de suicídio foi apontada como efeito-colateral provável das repercussões econômicas decorrentes do lockdown, cuja eficácia em saúde pública foi descartada, e cujo suporte científico à sua implementação à época era nulo.
As taxas de suicídio durante e após a imposição do lockdown deverão levar ainda muitos anos para serem estabelecidas. E não haverá a menor segurança de que os dados produzidos correspondam de fato à realidade. É provável, porém, que, como um fenômeno notório de grande repercussão, as taxas de familicídio acabem se apresentando como indicador fidedigno indireto da majoração da incidência de suicídio em decorrência das medidas sanitárias autoritárias, impostas de modo, talvez, irresponsável.
No caso presente do Rio Grande do Sul, 2 casos em 1 semana equivaleria, no limite, a cerca de 100 casos por ano, para uma população de apenas cerca de 12 milhões (ou menos, considerada apenas a área metropolitana de Porto Alegre) – em clara e gritante desproporção às estatísticas internacionais,
representando uma virtual epidemia.
Por outro lado, a relação entre suicídio, familicídio, psicoses e doenças afetivas, destacam a importância dos meios de prevenção através da oferta de tratamento adequado especializado aos sujeitos que apresentam sinais de grande sofrimento psíquico.
Dr. Sander Fridman é Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Atende Neuropsiquiatria, Psicanálise Cognitivista, Transtornos Sexuais e Relações Conjugais.