Governo sírio tortura prisioneiros, diz Anistia Internacional
“Os testemunhos que ouvimos dão esclarecimentos perturbadores sobre um sistema de detenção e interrogatórios que, um ano após o início dos protestos, parece ser destinado principalmente a degradar, a humilhar e a aterrorizar as vítimas para que fiquem em silêncio”, disse Ann Harrison, do Programa de Oriente Médio e Norte da África da Anistia Internacional.
A organização diz ainda que seu relatório, intitulado Eu Queria Morrer, é baseado em testemunhos coletados durante visita à Jordânia em meados de fevereiro, quando os pesquisadores falaram com dezenas de pessoas que haviam deixado a Síria. Cerca de 25 dos entrevistados disseram ter sido torturados ou maltratados durante a prisão, de acordo com o documento. Acrescenta que é difícil verificar a veracidade dos relatos por causa das severas restrições à presença de jornalistas estrangeiros no país.
A Anistia lembra que os maus-tratos começavam a partir do momento que as pessoas eram presas e evoluíam para uma surra prolongada quando elas chegavam aos centros de detenção. “Elas sofriam surras prolongadas e constantes com [os soldados utilizando] os punhos e vários instrumentos, incluindo bastões e cabos elétricos, além de chutes”, informa o relatório. Os detentos eram frequentemente deixados nús e expostos durante 24 horas.
O relatório registrou também métodos de tortura específicos que estariam sendo usados, como o shabeh, em que a vítima é suspensa por um gancho para que seus pés fiquem pouco acima do chão, e a eletrocussão, em que a vítima é molhada e uma carga elétrica é aplicada ao chão, também molhado.
A Anistia Internacional está exigindo que as autoridades sírias parem de fazer prisões arbitrárias de pessoas que expressam pacificamente sua oposição ao governo e que acabem com o uso da tortura e de outros tipos de maus-tratos. O grupo também pede que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) dê ao Tribunal Penal Internacional a missão de investigar o que seriam crimes contra a humanidade.
O relatório foi divulgado pouco depois que a ONU anunciou que enviaria observadores de direitos humanos aos países que fazem fronteira com a Síria para coletar relatos de testemunhas sobre as “atrocidades” cometidas no país.
No último mês, um grupo de investigadores independentes da ONU, comandado pelo diplomata brasileiro Paulo Pinheiro, informou que as forças sírias cometeram crimes contra a humanidade, incluindo assassinato e tortura sob ordens do governo do presidente Bashar Al Assad.