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Histórias da Vida

Em meados do século passado, portanto faz mais de 80 anos, que nasceram dois guris numa mesma vila. O local era Passo Fundo, mais precisamente em seu distrito de Carazinho, hoje município.

E o fato foi no sub-distrito de São Bento. Os dois guris, filhos de famílias pobres, cresceram juntos até que em dado momento,  cada qual tomou seu rumo.

Eram eles, o Caboclo e o Itajiba.

Caboclo se estabeleceu onde hoje é Carazinho e tornou-se barbeiro. Mais tarde tomou o rumo de Porto Alegre e virou comerciante por um bom tempo. Depois Caboclo tornou-se Corretor de Imóveis.

Itajiba tomou o rumo de Porto Alegre também. Ali foi engraxate por algum tempo. Em dado momento tomou o rumo de Viamão e lá cursou a Escola Técnica de Agricultura. Depois disto cursou engenharia, mas sua vocação era a política. Já trocado seu antigo nome, agora era Leonel de Moura Brizola.

Sua trajetória política o Brasil inteiro conhece.

Foi sempre um homem preocupado com a educação, pois ele melhor do que ninguém, se não tivesse tido oportunidade de estudar teria sido apenas mais um na multidão.

O Brizola quando cursava a ETA em Viamão conheceu dona Julieta Pinto Cesar.

Julieta Pinto Cesar era filha de Francisco Antunes Pinto e Ana de Oliveira Pinto.

Do primeiro casamento de seu pai tivera 20 irmãos. Falecida dona Ana, Chico Pinto casou novamente, desta vez com Enóe Barcellos Pinto com quem teve mais três filhos, Ana, Sui e Francisco, hoje ainda vivos segundo sei.

O marido de dona Julieta suicidou-se no matadouro de seu cunhado Carlos Pinto, irmão de Dona Julieta.

Esta chegou a ser vereadora pelo PTB, aquele verdadeiro e não este entregue ao quadrilheiro Roberto Jefferson.

Ela representava o Correio do Povo. Lembro que naquela época não havia estrada, apenas trilha.

Quando Brizola foi a Viamão inaugurar a RS-118, naquela época não pavimentada, ao chegar ao local perguntou por dona Julieta e alguém lhe informou que ela estava acamada, muito enferma. Pois ele mandou buscá-la com uma ambulância, tal a estima que tinha pela mesma que sempre foi uma mecenas, dentro de suas modestas possibilidades.

Ela tinha uma pensão localizada na frente da Praça Central de Viamão.

Não sei quando dona Julieta deixou este mundo.

Faz alguns anos o jornalista Rogério Mendeslki, cria de Viamão, falou no ar, na rádio Guaíba em sua a vó Julieta.

Não eram parentes, disto tenho certeza absoluta, mas como ela sempre incentivou jovens a estudarem, ele certamente tinha enorme carinho por ela.

Conheço dois meio-irmãos, o Rogério Fraga Pinto e o Carlos Pinto, ambos os filhos do Gil que era filho do irmão de dona Julieta, o Carlos Pinto, no matadouro do qual seu marido se suicidara.

São filhos de mães diferentes. Ambos são Inspetores de Polícia.

O Rogério em Imbé e o Carlos em Palmares do Sul.

Pois quando Brizola pisou o solo de Porto Alegre de retorno do exílio foi recebido por uma multidão de simpatizantes e correligionários. Lá estava o Caboclo, seu amigo de infância. O Dr. Brizola ao vê-lo, abriu caminho e o abraçou por longos instantes. Durante longo período ambos não se tinham visto.

Dona Julieta tinha duas filhas e uma delas teve um filho de nome Carlos Alberto Pinto Cesar, mas conhecido como Bebeto.

Bebeto jogou nos juvenis do Grêmio onde foi reserva do Everaldo.

Este foi campeão mundial pela seleção brasileira. Morreu em um acidente com seu Dodge Charger, em rodovia.

O Everaldo, num jogo do Grêmio arranjou uma enorme suspensão, pois o tal árbitro de nome Emídio Marques Mesquita (já naquela época ele “operavam” os times aqui do sul). E o Emídio estava em plena “cirurgia” contra o Grêmio, dentro do Estádio Olímpico, quando o Everaldo, valendo-se de sua pouca estatura atingiu esse Emídio, que era grandalhão,  com um soco embaixo do queixo.

Resultado: o “cirurgião” por alguns minutos dormiu ouvindo o canto de pássaros e o Everaldo “dançou”.

Ali terminou sua carreira. Foi o soco mais lindo que vi, aliás, não só eu como toda a torcida do clube presente ao estádio, ao vivo e em cores.

O Bebeto ainda jogou nos profissionais do Aymoré de São Leopoldo e chegou a ser vereador em Viamão pelo PDT.

Seu Pai Helio Silva era titular de um carro de praça, hoje conhecido por táxi. Seu ponto era Estação Rodoviária de Viamão.

O Bebeto depois foi para a Assembléia Legislativa, como assessor parlamentar do Deputado Porfírio Peixoto e parece-me que lá está até hoje, agora no TCE, se já não aposentado.

Pois a vida é caprichosa, tanto é verdade que o outro guri, referido ao início deste texto foi pai de três filhos.

Ainda jovem, já na Polícia, por decisão do Coronel Mariath, secretário de segurança, acabei lotado no Palácio Piratini.

Trabalhava com a esposa do Coronel da Brigada Militar Walter Peracchi Barcellos, então governador (interventor) nomeado pela ditadura. Dona
Stela constituiu uma entidade com o nome de Campanha de Recuperação Social.  E nesta instituição conheci a senhora Mary Tutikian, amiga de dona Stela.

Numa bela tarde lá apareceu uma jovem encaminhada que fora à dona Mary, a qual pretendia lecionar. Era ela o que hoje de forma debochada chamam de “professorinha” estas que tem graduação universitária, sem esquecer que desde a exigência da graduação a qualidade do ensino caiu de forma vertiginosa.

Presente estava dona Yeda Vigidal de Miranda Mariath, esposa do secretário de segurança.

Dona Yeda era espírita. Uma mulher alta, muito educada e querida. 

Dona Yeda logo percebeu a forma como eu havia olhada para a professorinha.

Eu tinha 26 anos, livre, leve e solto.

E a moça tinha umas pernas lindas e olhos de um azul inigualável.

No dia seguinte dona Yeda me disse que iria resultar em casamento.

Como já disse ela era espírita, por certo enxergava o que outros não enxergavam. Lembro que dona Yeda me contou sobre a morte de seu irmão, piloto no porta-aviões Minas Gerais que bateu a aeronave contra o casco do navio, morrendo instantaneamente.

O motorista Fausto Alendes, meu amigo que trabalhava conosco, morreu ainda jovem, me disse a mesma coisa.

De fato casei menos de um ano depois com a referida professorinha.

E agora a história que narrei  começa a fazer sentido, pois a professorinha chama-se Berenice, era filha do Caboclo, aquele guri nascido no mesmo local e na mesma época que o Dr. Brizola.
Os dois eram o Caboclo e o Itajiba da infância pobre lá em São Bento.

E a dona Julieta era irmã de minha mãe, ambas filhas do primeiro casamento do Chico Pinto. Sou Jorge Pinto Loeffler, mas o uso apenas Jorge Loeffler, haja vista que entendo ser o Pinto destinado aos assuntos “internos”.

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