Insuficiência renal
E lançava à mulher aquele olhar que só os cães agradecidos sabem enviar ao dono.
Embevecida pelas declarações do marido, Maria Teresa dispôs-se, até, a convencer seu irmão, por compatível, a doar um dos rins ao cunhado.
Transplante feito, e com sucesso, a dor no rim foi mitigada. Reinava a mais pura alegria no lar de Cleomar e Maria Teresa. Agradecido, convidou parentes e amigos para festejarem a vitória com suculento churrasco regado a vinho de generosa safra. A festa e o porre se estenderam até os primeiros raios da nova manhã.
Foi, então, que sobreveio a Cleomar uma nova dor, que dói não somente na cabeça e no corpo inteiro, sobretudo na alma.
No dia seguinte ao festivo churrasco Cleomar descobriu que o cunhado, o bondoso cunhado!, nunca havia doado coisa alguma, muito menos um rim. Totalmente embriagado, ao sair da casa da irmã, o dito cunhado fora atropelado e morto. Necropsia feita, lá estavam os dois rins, inteirinhos.
Na realidade, o doador do órgão fora um outro homem, Ronaldo, vizinho e amigo que havia, inclusive, participado nas comemorações do convalescente Cleomar. E mais: tratava-se do amante, há seis anos, de Maria Teresa.
Cleomar, com o olhar de cachorro abandonado, mirou Cleozinho, o garoto de seis anos, filho do casal.