Irã testa foguete, programa nuclear vai continuar
O Irã anunciou a realização “com sucesso” de seu primeiro teste para lançar ao espaço um foguete de fabricação nacional, segundo a TV iraniana Alalam. A fonte citada pela TV informou que o foguete transporta “equipamentos para pesquisa” e teriam sido fabricados por cientistas iranianos.
A agência de notícias Isna informou que o lançamento do foguete foi possível graças à cooperação entre os ministérios de Defesa e Ciência e Tecnologia da República Islâmica.
O diretor do Instituto de Aeroespacial do Irã, Mohsen Bahrami, qualificou o teste de “ponto de partida na marcha do desenvolvimento iraniano nas pesquisas sobre o espaço”.
“Tanto o material de pesquisa espacial quanto o foguete foram desenhados e fabricados pelos especialistas iranianos”, destacou Bahrami durante uma conferência aeroespacial inaugurada hoje, no Irã. Bahrami, no entanto, não forneceu detalhes sobre a hora do lançamento do foguete ou a natureza de sua missão.
Controvérsia
Segundo a agência de notícias estatal iraniana, citando um funcionário da agência espacial, o Irã teria lançado “um foguete suborbital, para pesquisas científicas, e não um míssil capaz de chegar ao espaço”. Ali Akbar Golrou, a autoridade do centro de pesquisa aeroespacial iraniano, disse à agência de notícias Fars que o foguete não permaneceria em órbita –mas poderia subir 150 km na atmosfera antes de cair com pára-quedas de volta à Terra.
“O que foi anunciado pelo chefe do centro de pesquisa [Mohsen Bahrami] tem relação com este mesmo foguete de sondagem”, disse Golrou, negando a informação sobre o míssil.
As informações foram reveladas um dia depois do ministro da Defesa iraniano, Mostafa Mohammad Najjar, ter afirmado que o país planejava construir um satélite e um lançador de foguetes.
Anteriormente, o Irã havia anunciado que planejava modificar o míssil Shahab-3 para lançar satélites. Em 2005, o Irã lançou seu satélite Sina-1 por meio de um foguete russo. Segundo a correspondente da BBC na capital iraniana, Teerã, Frances Harrison, peritos militares dizem que o foguete amplia a tecnologia do míssil balístico Shahab-3.
Na prática, dizem os especialistas, não haveria impedimento tecnológico para que o Irã construa agora mísseis de maior alcance, o que causa grande preocupação internacional.
O lançamento é feito em um momento de crescente tensão entre o país e o Ocidente, por causa de seu programa nuclear e, segundo Harrison, tem um objetivo claro de confronto.
Tensão
Em resposta à pressão internacional, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse, neste domingo, que o Irã não vai dar marcha à ré em seu programa nuclear. O vice-ministro das Relações Exteriores iraniano jurou que o país está preparado para qualquer eventualidade “até mesmo a guerra”.
“O Irã desenvolveu tecnologia para produzir combustível nuclear, movendo-se como um trem que não tem freio nem marcha à ré”, disse Ahmadinejad, segundo a agência de notícias Isna.
Na semana passada o Irã ignorou o prazo estabelecido pelas ONU (Organização das Nações Unida) para o fim do enriquecimento de urânio [processo que serve tanto para a produção de combustível em usinas nucleares como para o desenvolvimento de ogivas].
Teerã diz querer um acordo, mas o país vem se recusando a atender a principal exigência do ocidente; a suspensão do programa atômico. O Irã já afirmou em reiteradas ocasiões que não se propõe a fabricar uma bomba atômica e reivindica seu direito ao desenvolvimento de tecnologia nuclear, estipulado no Tratado de Não-Proliferação, do qual é signatário.
Os Estados Unidos acusam a república islâmica de buscar o desenvolvimento de armas nucleares. Washington afirma querer uma solução diplomática para o conflito, mas não descarta uma ação militar, caso necessário. Em recente visita à Austrália, o vice-presidente do EUA, Dick Cheney, disse que seria um “erro grave” permitir que o Irã se torne uma potência nuclear. Para aumentar a pressão sobre Teerã, Washington já impôs sanções a dois grandes bancos e três firmas iranianas, enviando um segundo porta-aviões para a região do Golfo.
Em resposta, Manouchehr Mohammadi, um dos ministros das Relações Exteriores, afirmou “estamos preparados para qualquer situação, até mesmo a guerra”, segundo a Isna. Comandantes militares iranianos afirmaram que as recentes demonstrações bélicas, a última delas envolvendo vários testes de mísseis, mostram que o Irã está pronto para responder a qualquer ataque.
Durante visita à África do Sul, o principal negociador nuclear do Irã, Ali Larijani, disse à agência de notícias oficial que Teerã vai reagir “proporcionalmente” a novas pressões, mas deseja continuar as negociações. “O Irã está pronto para resolver qualquer diferença sobre seu programa nuclear por meio das negociações”, afirmou.
Ele pediu que os membros do Conselho de Segurança (CS) da ONU, que devem se reunir em Londres nos próximos dias, deixem para trás “seu comportamento hostil”.
Desafio internacional
Autoridades do CS (altos funcionários dos Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia) e da Alemanha se reunirão nesta segunda-feira, em Londres, para analisar os próximos passos em relação ao Irã –no último dia 21 venceu o prazo de 60 dias (proposto pelo CS) para que o país pare seu programa de enriquecimento urânio.
A ONU já impôs sanções contra o país em dezembro, proibindo a transferência de tecnologia e “know-how” para o programa nuclear e de mísseis do Irã. A resolução 1737 do CS prevê que medidas mais sérias possam ser adotadas caso o Irã continue se recusando a barrar seu programa nuclear.
O país não apenas desrespeitou as determinações da resolução como ampliou sua capacidade de enriquecimento de urânio –principal motivo de preocupação da comunidade internacional–, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Neste domingo, ministros de Relações Exteriores de sete países muçulmanos pediram “uma solução diplomática ao perigoso enfrentamento oferecido pelo programa nuclear do Irã”, em comunicado conjunto emitido após reunião em Islamabad.
“Os ministros analisaram com grande preocupação o perigoso aumento da tensão, especialmente no que diz respeito à questão nuclear iraniana”, diz o comunicado, que foi lido pelo chanceler paquistanês, Jurshid Kasuri.
“É essencial que todos os temas sejam resolvidos através da diplomacia e não se deve recorrer à utilização da força”, acrescentou. Segundo os ministros, “é preciso rebaixar a tensão, para que ela não se agrave e chegue a uma confrontação na região do Golfo. Todos os países devem trabalhar em favor deste objetivo”.
Kasuri e seus colegas do Egito, Indonésia, Jordânia, Malásia, Arábia Saudita e Turquia centraram o foco do encontro em uma iniciativa islâmica para pôr fim ao conflito no Oriente Médio. O secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica (OCI), Ekmeleddin Ihsanoglu, também participou desta reunião.
Com agências internacionais