JÁ IR – Sergio Agra
Da Série Meus Poemas Satânicos eHaikais Transgressores
Paródia ao poema “José”,
de Carlos Drummond de Andrade
Ontem, aqui em Capão da Canoa, deveria ocorrer a aplicação da segunda dose do imunizante ao CIVID-19 para os acima de 72 anos. Resumo da ópera: não havia mais o estoque da vacina.
Para amenizar minha angústia/raiva escrevi esta paródia ao poema JOSÉ, de Carlos Drummond de Andrade.
Fui movido pela indignação e enquanto em mim ela existir será sinal de que estou vivo. Se concorda compartilhe (sem esquecer de me dar os créditos), se não, ria um pouco, porque é só o que grátis lhe resta.
E agora, Já ir?
A vacina acabou,
a esperança finou,
o povo sucumbiu,
a noite impediu
o riso de alegria.
Já ir, você nos traiu,
e agora, Já ir?
e agora, você?
você que não tem sabedoria,
que zomba dos outros,
você que faz bravatas,
xinga, protesta,
e agora, Já ir?
Está sem suporte,
está sem discurso,
está sem carinho,
dos que em ti confiaram,
já não pode passear,
teu pastel só tem vento,
teu café esfriou,
teu boteco fechou,
a Coronavac não veio,
a Pfizer não veio,
a Astrazeneca não veio,
o riso não veio
só veio a utopia
e tudo acabou.
A esperança fugiu,
o sonho mofou,
fiquei sem vacina,
cadê a segunda dose?
E agora, Já ir?
E agora, Já ir?
Sua chula palavra,
seu delírio constante,
sua absurda teimosia,
sua insana tirania,
seu bando de acólitos,
em submissas hosanas
à sua incoerência,
seu gabinete do ódio — e agora?
Com o arrependimento na alma
quer comprar a vacina,
não mais existe vacina;
quer atravessar o mar,
mas o mar secou;
quer ir para o Rio,
O Rido de Janeiro não há mais.
Já ir, e agora?
Se você escutasse,
se você concordasse,
se você se tocasse,
que esse vírus maldito
“gripezinha” não fosse,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Já ir!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
em terrível agonia,
vendo o povo sofrer
sem poder se em(in)tubar,
sem leito de UTI,
você unicamente deseja,
se eleito outra vez.
Mas você marcha, Já ir!
Já ir, para onde?