Juros e Inflação: um desafio de longo prazo
Na última quarta-feira, o Copom (Conselho de Política Monetária) surpreendeu os mercados ao anunciar uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), de 12,50% para 12% ao ano. O Conselho pautou sua decisão pela recente deterioração do cenário internacional e contínuas revisões para baixo das taxas de crescimento e inflação dos países “desenvolvidos”, alegando que esse quadro adverso acabará atingindo a economia brasileira. No caso dos Estados Unidos, a Ata do FOMC (Comitê de Política Monetária americana) deixou claro que não há riscos de a inflação voltar a subir e que a recuperação da economia está muito abaixo do esperado.
No Brasil, o Banco Central tem como compromisso manter a inflação, medida pelo IPCA, dentro da meta estabelecida de 4,5%. No regime de metas de inflação, a autoridade monetária compromete-se a seguir a meta previamente acordada. Assim, a condução da política monetária estará alicerçada no comportamento da inflação.
De fato, a inflação no País, e também no mundo, acelerou a partir do aumento nos preços das commodities. Em especial, pode-se observar um aumento significativo no preço do petróleo e, por consequência, no encarecimento dos custos de energia. Este cenário altista de preços acabou fazendo com que o Copom aumentasse, nos últimos meses e de forma sucessiva, a taxa básica de juros até atingir o patamar de 12,5%. Assim, a alta nos juros no Brasil esteve diretamente ligada ao aumento da inflação, que acabou ultrapassando o limite superior de 6,5%.
Porém, a crise externa parece estar pesando mais sobre as perspectivas futuras. Portanto, a queda na taxas de juros está vinculada a uma perspectiva de redução gradual do IPCA. A pesquisa Focus da semana mostrou que o mercado tinha como cenário o IPCA em 6,3% e a Selic em 12,50% no final de 2011, dados que serão revistos a partir da mudança de rumo na política monetária. Outrossim, pensar em taxa de juros no longo prazo implica atender aos acordos que foram firmados, inclusive de manter a taxa de inflação o mais próximo da meta. Assim, a queda na taxa de juro precisa estar alinhada com o comportamento da inflação, sob pena de perder confiança por parte do Banco Central.
Claro que a decisão de baixar os juros será benéfica para os investidores. Eles têm atualmente boas opções de investimentos, tanto em renda fixa quanto em renda variável.
O nível atual dos juros (ainda elevado se comparado aos patamares externos) de certa forma ainda favorece investimentos em renda fixa. Isso porque o custo de oportunidade para o pequeno investidor é: investir num título do governo que garante uma rentabilidade de 12% ao ano, ou se arriscar investindo em bolsa.
Por outro lado, a queda no Ibovespa barateou a bolsa brasileira, fazendo com que surgissem ótimas opções de investimentos em empresas sólidas e lucrativas. E foi isso que vimos essa semana na bolsa. Muitos investidores voltando a acreditar no mercado acionário, especialmente nas empresas que possuem maior correlação com o cenário interno. Isso porque a redução de juros gera um efeito positivo na demanda agregada da economia e reduz o serviço de dívida de empresas com dívidas. Além disso, historicamente, períodos de queda nas taxas de juros são aqueles em que a performance da bolsa tende a ser melhor.
Enfim, excluindo-se os efeitos macroeconômicos externos, mais do que nunca, temos um cenário positivo para a nossa bolsa.
Carlos Eduardo Schönerwald – Professor da UFRJ e consultor da XP Investimentos.