Keynes x Adams – Jayme José de Oliveira
A economia mundial se dicotomiza, a grosso modo, entre as teorias que advogam o socialismo ou o capitalismo. Quando seguidas à risca, ambas levam a resultados catastróficos. O socialismo tipo soviético induz à formação de um regime que leva a uma “nomenklatura”com dirigentes nababos e acaba, sempre, em ditadura. O capitalismo, dito selvagem segue rumo semelhante apesar de pregar a democracia. Haverá solução? Os países escandinavos tentam e têm obtido progressos estimulantes ao procurar um regime simbiótico, onde se conjugam objetivos socialistas voltados ao bem-estar do povo com o dinamismo, proficiência e progresso tecnológico do capitalismo.
As democracias se valeram de dois economistas que agregam simpatizantes. Quando se conjugam seus acertos e se desprezam suas deficiências (como nos escandinavos), surge uma luz no fim do túnel: economia sólida, avanços consistentes no nível de vida. O tempo dirá se nossos descendentes usufruirão uma vida digna de ser vivida, com conforto e liberdade conjugados.
“Se o governo administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”. (Milton Friedman, prêmio Nobel de Economia -1976)
Não há dúvidas de que Adam Smith foi um dos economistas mais importantes da história, era um grande defensor da liberdade. O livre mercado era apenas uma consequência disso. A premissa básica de seu pensamento era a de que o governo não precisa interferir na economia, é base da teoria do liberalismo.
“Ao perseguir seu próprio interesse, o indivíduo frequentemente promove o da sociedade da forma mais eficaz e nenhuma nação pode florescer e ser feliz enquanto grande parte de seus membros for formada de pobres e miseráveis.”
Em contrapartida, John Maynard Keynes, economista britânico cujas ideias mudaram fundamentalmente a teoria e prática da macroeconomia, bem como as políticas econômicas instituídas pelos governos, defende uma organização político–econômica oposta às concepções liberais. Fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável no controle da economia, com objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Aponta a possibilidade de uma sociedade se desenvolver proficuamente, ou não.Defende a intervenção estatal na economia, principalmente em áreas onde a iniciativa privada não tem capacidade ou não deseja atuar e preceitua políticas voltadas para o protecionismo econômico. O livre mercado se volta, preferencialmente, para os interesses individuais e empresariais.
Vale ressaltar que Keynes era contrário à estatização da economia, como havia ocorrido nos países socialistas após a Revolução Russa de 1917. Ele defendia o sistema capitalista, porém acreditava que deveria haver ações e medidas de controle por parte do Estado. Um sistema econômico equilibrado se baseia em ter uma poupança equivalente aos empreendimentos a serem executados. Quando isso não ocorre, torna-se necessário pedir emprestado a terceiros, com o consequente ônus do pagamento de juros e amortizações que trarão dificuldades aos tomadores e, possivelmente, às gerações futuras. Isso se o montante for superior à capacidade de pagamento em curto prazo.
Este desequilíbrio ocorre no Brasil a partir de 2002. Nesse ano, nossas dívidas, interna mais externa, somando as em nível federal, estadual e municipal alcançava o montante de R$ 852 bilhões, acumulados durante 180 anos, desde a proclamação da Independência (1822). Atualmente (abril de 2019) atinge a estratosférica soma de R$ 5,479 trilhões, 78,8% do Produto Interno Bruto (PIB) (Correio do Povo, 04/06/2019). Calculando pela taxa Selic (6,5%), os juros anuais alcançam a descomunal importância de R$ 356,135 bilhões, R$ 975,712 milhões diariamente. Em 16 anos, sextuplicamos a dívida que fora acumulada desde a Independência.
Estamos, seguramente, numa sociedade não mais equilibrada e se a situação perdurar, o nosso endividamento chegará ao ponto de que grande parte da renda arrecadada será destinada para honrar os juros e amortizar nosso débito. Sobrará muito pouco para todas as demais despesas, tanto as obrigatórias como as destinadas a investimentos. Aliás, o Brasil investe pouco porque se tornou refém de suas dívidas, em consequência oprime a população, inclusive nossos filhos e os filhos dos nossos filhos.
Para enfrentar esses déficits foi implementada a PEC do Teto de Gastos, cortando investimentos e até despesas precipuamente destinadas à educação, segurança, saúde e infraestrutura.
A quem ou a que devemos debitar esta situação escabrosa? Não existe causa única, é multifacetada e, entre outras, podemos elencar:
A corrupção que conluia empresas inescrupulosas com governantes sequiosos de enriquecer e com eles seus afiliados. Os bancos não ficam atrás, o ex-presidente Lula, em discurso na avenida Paulista (18/03/2016) disse que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como no governo dele.
http://tvuol.uol.com.br/video/nunca-ganharam-dinheiro-como-no-meu-mandato-diz-lula-sobre-banqueiros-04020D183666C0C15326Obras superfaturadas são financiadas por verbas oficiais – no caso o BNDES – nos quatro cantos do mundo, principalmente no exterior. Enquanto porto de Mariel (Cuba), metrô de Caracas (Venezuela) avançam e são concluídas rapidamente, no Brasil, andam a passos de tartaruga, não são concluídas por falta de verbas ou sequer iniciadas. (Ponte do Guaíba, metrô de Porto Alegre, modernização do porto de santos, sistema rodoviário, etc.). Países latinos e africanos são primordialmente agraciados.A Previdência acumula déficits e mais déficits (dados apresentados pelo governo federal revelam que o déficit do INSS é de mais de 180 bilhões) e quando se fala em reforma, a revolta se generaliza “querem tirar os direitos dos humildes a uma velhice tranquila”. “Reforma da Previdência vai privilegiar bancos e prejudicar mulheres”, afirma economista Marilane Teixeira (13 março de 2019).
Considerando que, atualmente, a previdência paga entre R$998,00 (mínimo) e R$5.839,00 (teto) para os aposentados incluídos no quadro geral e o valor do último saláriopara funcionários do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, aos militares e não obedece ao teto, não épreciso ser nenhum especialista para constatar a não veracidade do argumento. Os que, atualmente recebem acima do teto terão suas aposentadorias reduzidas quandoa reforma da Previdência for implementada. E muito. Temos que, impreterível e urgentemente estancar o crescente endividamento público, para isso, medidas drásticas se impõem e elas NÃO PODEM TARDAR.
O Brasil está, atualmente em situação similar a um cidadão que estourou seu cartão de crédito, afundou no cheque especial e se vê na contingência de continuar o endividamento. Nesta hora é preciso repensar os gastos para evitar o colapso financeiro, momento em que entrará numa espiral descendente que o levará à impossibilidade de honrar seus compromissos. Se fosse uma empresa, a falência seria inevitável, um país não entra em falência, descamba para uma situação calamitosa em que o cotidiano dos cidadãos cai a um nível em que nem os alimentos são acessíveis, por inexistência nos supermercados. O resto, educação, saúde, segurança, lazer… Grécia e Venezuela são exemplos recentes, a Alemanha pós-guerra lembrança mais antiga. Com muito trabalho, perseverança, sacrifícios e cooperação de todos, conseguiu emergir do caos e hoje é uma superpotência.
UM EXEMPLO A SER IMITADO. MELHOR NÃO CHEGAR LÁ.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado