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Made in China: o risco maior é dos chineses

A China informou nesta semana que cerca de um quinto dos produtos alimentícios e de consumo analisados em pesquisa de âmbito nacional realizada neste ano foram identificados como abaixo do padrão ou estragados, evidenciando o risco enfrentado pelos próprios consumidores do país, mesmo com as exportações da China passando por inspeções mais severas no exterior.

Os órgãos reguladores afirmam que a ampla pesquisa de alimentos, ferramentas agrícolas, roupas, produtos para mulheres e crianças e outros tipos de produtos revelou índices significativamente elevados de problemas de qualidade e segurança nos produtos vendidos para o mercado nacional.

'Recall'

O governo admitiu, por exemplo, que frutas enlatadas e em conserva e peixe seco continham excesso de bactérias; que 20% dos sucos de frutas e vegetais analisados foram considerados abaixo do padrão; e que alguns produtos infantis apresentavam defeitos ou continham produtos químicos tóxicos.

A notícia chegou em meio a um crescente escândalo acerca da qualidade e segurança dos produtos exportados e fabricados na China e após uma série de 'recalls' internacionais envolvendo tudo, desde ingredientes de ração animal contaminados e creme dental falsificado até brinquedos tóxicos, pneus com defeito e frutos do mar contaminados.

O General Administration of Quality Supervision, Inspection and Quarantine disse que a pesquisa, realizada no primeiro semestre deste ano, revelou melhorias em qualidade e segurança em comparação com as condições encontradas no mesmo período do ano anterior. Mas a notícia também sugeriu que os consumidores chineses correm um sério risco de serem prejudicados na compra de alimentos estragados, produtos fora do padrão e equipamentos suspeitos ou com defeito.

'Muito mais perigosos'

Os órgãos reguladores afirmaram que os produtos vendidos na China são muito mais perigosos do que os exportados que impulsionam o crescimento econômico do país e agora, em parte, se tornam alvo de discussões ligadas à segurança e à qualidade.

Li Yuanping, representante de um órgão regulador, contou à agência de notícias estatal Xinhua no mês passado que “99% dos alimentos exportados aos Estados Unidos cumpriram os padrões de segurança nos últimos dois anos, o que é uma porcentagem bastante alta”.

Contudo, os reguladores dos Estados Unidos, da Europa e de outros países estão ficando cada vez mais preocupados com as falhas de qualidade e segurança envolvendo os produtos de fabricação chinesa.

Na semana passada, o FDA (Food and Drug Administration – órgão governamental americano que controla alimentos e medicamentos) declarou que proibiria que alguns tipos de frutos do mar processados provenientes da China, inclusive camarão, enguia e bagre, entrassem nos Estados Unidos, a menos que apresentassem certificação de segurança.

Os órgãos reguladores norte-americanos alegam que foram obrigados a tomar providências após testemunharem um aumento acentuado este ano no número de frutos do mar contaminados com cancerígenos ou excesso de resíduos antibióticos.

O outro lado

Alvo de críticas ferrenhas, a China defendeu diversas vezes a qualidade e a segurança dos alimentos e produtos que exporta. Mas os reguladores também afirmaram ter tomado medidas para reprimir alimentos de qualidade ruim e produtos falsificados.

Quase toda semana nos últimos meses, o governo e a mídia estatal da China só ofereceram mais provas do quanto os problemas de qualidade e segurança estão disseminados no país, apesar de sinais de progresso em diversas áreas do comércio.

No mês passado, os reguladores e inspetores de qualidade identificaram frutas cristalizadas com 63 vezes a quantia permitida de adoçante; aditivos e conservantes em excesso em cerca de 40% dos lanches para crianças pesquisados na província de Guangxi; proteína de sangue humano falsificada em hospitais; e alimentos contendo formaldeído, colorantes ilegais e cera industrial.

Na semana passada, o governo chegou a declarar que havia fechado cerca de 180 fábricas de alimentos em todo o país devido a violações de segurança dos alimentos. De dezembro a maio, os reguladores disseram que descobriram 23 mil casos envolvendo alimentos falsificados ou de má qualidade.

Risco de 20%

Nesse relatório divulgado na quarta-feira, o governo afirmou que 80,9% dos alimentos e outros produtos analisados em pesquisa nacional cumpriam os padrões de segurança e que esse índice é mais elevado do que o registrado no ano anterior, quando cerca de 78% dos produtos pesquisados foram considerados seguros.

O governo declarou que mais de 3 mil tipos de alimentos foram inspecionados em todo o país e que milhares de empresas foram vistoriadas. Entretanto, os órgãos responsáveis forneceram poucos detalhes sobre as razões pelas quais alguns produtos não apresentavam os padrões de qualidade e segurança ou até que ponto tais produtos são perigosos.

O governo, porém, informou que leite e roupas para bebês não cumpriam os padrões de segurança, que rações animais, fertilizantes e equipamentos agrícolas apresentavam defeitos e que muitos produtos alimentícios continham rótulos errados ou haviam sido excessivamente coloridos por aditivos.

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