Hoje, os noticiários informam que aos 87 anos, o cidadão Hailton Correa de Arruda- o lendário MANGA, partiu deste mundo para o universo do desconhecido e do misterioso.
Manga jogou no Inter de 1974 a 1976, tendo neste período conquistado o Gauchão de 74,75 e 76 e ainda o bicampeonato brasileiro de 1975 e 1976.
O time do Inter, em 1975, quando foi campeão Brasileiro era formado pelos jogadores da base como Chico Fraga, Caçapava e Batista que se uniram a uma equipe onde jogavam ídolos como Figueroa, Falcão, Paulo Cesar Carpegiane, Valdomiro e Manga.
Em 1975 eu já estava em Porto Alegre há cinco anos e fazia expediente no Banco da Amazonia, pela parte da manhã tendo, as tardes livres.
Naquele tempo eu morava na Pensão Fleck, do Beto e da Reni que ficava situada na rua Andrade Neves 121 a duas quadras do Basa que ficava na Borges de Medeiros, antes da Jeronimo Coelho.
Como as minhas tardes eram muito solitárias eu, costumeiramente inventava alguma atividade para que o tempo passasse rápido e, chegando a noite eu pudesse me sentar em uma mesa do Restaurante Braseiro- na Jeronimo Coelho quase esquinas Borges de Medeiros- e pudesse tomar umas três ou quatro doses de uísque, antes de pedir a minha janta que era acompanhada, sempre, por uma ou duas cervejas Brahma, bem geladas.
Uma das minhas invenções para encurtar minhas tardes era ir para o Gigante da Beira Rio e assistir os treinos do time.
Os treinos dos profissionais começavam mais ou menos as 15:30 horas e entre treino com bola e exercícios físicos iam, normalmente, até às 17:00 horas.
Acabados os treinos o Técnico, o Preparador Físicos e atletas- nem todos- deixavam o gramado e iam para os vestiários.
Ficavam, depois do treino, a pedido do Manga, o Valdomiro, o Paulo Cesar Carpegiani, batendo faltas ou simulando ataques e na defesa o Figueroa dando cobertura e auxiliando o Manga, quando os arremessos chegavam à área.
Quando havia um gol ou uma defesa espetacular do Manga, todos se abraçavam, num clima de alegria e felicidade.
Eram profissionais que gostavam do que faziam e, por isso, eram felizes e levavam o clube a grandes resultados.
Lá pelas 18 horas aparecia algum jogador, mandado pelo técnico, dizendo para que eles encerrassem o treino complementar e se recolhessem.
Muitos colorados que, como eu estavam assistindo- das arquibancadas- aquela aula de profissionalismo, podiam ouvir o Manga dizer no seu português misturado com espanhol: ” solo um poquito más y nos bamos”
Era ele o líder daqueles que ficavam, depois do treino, mostrando com isto o seu amor pela profissão e o seu cuidado com a qualidade de sua atuação, bem como a atuação do Valdomiro, do Carpegiani e do Figueroa e de qualquer que com eles ficasse.
Era um profissional que gostava do que fazia e tinha prazer em fazê-lo bem e tudo fazia para que os seus companheiros tivessem a performance que ele tinha.
Sabe-se que hoje, enfrentando dificuldades financeiras e de saúde, estava morando com sua mulher Maria Cecilia, no Retiro dos Artistas, no Bairro do Pechincha, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Com sua morte, hoje, aos 87 anos a história do futebol perde um grande personagem, um grande profissional, um grande ser humano daqueles muitos que compunham os clubes de futebol brasileiro e que hoje são tão raros e tão difíceis de encontrar, o que está tornando medíocre o esporte que, em passado recente, foi nossa alegria e nossa gloria.
Manga, tu fostes um dos maiores goleiros brasileiros e, quem te conheceu, nunca esquecerá que contra o Cruzeiro, no Beira Rio, o Nelinho cobrou uma falta da intermediária do lado direito e a bola passou pela barreira e iria direto para o lado esquerdo do gol e tu com uma mão só defendeu o gol que era certo e, por tua causa, nós fomos campeões brasileiro.
Nos deixastes, hoje, mas ficarás eternamente na memória de todos os colorados e, certamente, daqui a muitos anos algum guri colorado ouvirá a tua história e te carregará, também, Coração.
( Recanto a Ana e do Erner, 8.04.25- Capão Novo)