Maomé e o islamismo – Por Jayme José de Oliveira
Para os muçulmanos, Maomé, foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica.
Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como um dos mais perfeitos seres humanos.
“Quem matar um ser humano terá matado a humanidade inteira. Quem salvar uma vida humana terá salvo toda a humanidade”. (Alcorão – quinta surata, versículo 23)”.
Maomé criou uma nação fundamentada nos direitos humanos e emancipou as mulheres quando assumiu o poder.
Os Árabes que controlavam a cidade de Meca urdiram um plano para assassinar aquele “poeta insano” que tinha virado uma ameaça. Não deu certo e isso evitou que o mundo se tornasse bem pior. Por outro lado, é evidente que os extremistas islâmicos, uma minoria estridente comete crimes em nome da religião, comete-os contra o próprio islamismo e Maomé, um homem que trabalhou pela civilização, não a barbárie. Alcorão, surata 9, versículo 42: “Ó, Profeta, combata aqueles que negam a verdade e os hipócritas e seja implacável com eles. O inferno será sua morada”.
O islamismo tem raízes profundas no judaísmo que surgiu mais de mil anos antes de Maomé. No rol das figuras sagradas das duas religiões encontramos Noé (Nuh), Moisés (Musa), Abraão (Ibrahim)…
Jesus, no Alcorão, é tratado como um dos profetas que antecederam Maomé, mas é um homem comum, sem caráter divino. Maria, sua mãe, aparece mais no livro sagrado do Islamismo que nos Evangelhos. É vista como um exemplo máximo de virtude.
Quando Maomé nasceu em Meca no ano 570, a região partilhava três crenças: O Judaísmo muito anterior, o Cristianismo em franca expansão e o Islamismo, preponderante. Na verdade cabia tudo na mente árabe daquele tempo, assim como o sincretismo do catolicismo com a umbanda coexistem no Brasil atual.
Maomé não conheceu o pai, morreu quando sua mãe estava grávida. Eram da classe média baixa e foi duro sobreviverem. A mãe morreu quando o menino tinha 7 anos e foi morar com o avô até os 8, quando seu tio Abu Talib o adotou e encaminhou para o oficio de mercador. Aprendeu rapidamente e isso lhe abriu as portas para que uma mulher, 15 anos mais velha, Khadija, o tornasse chefe de suas caravanas e posteriormente o desposasse.
Tornou-se um comerciante próspero que não suportava a ditadura Quraysh que dominava Meca. Reuniu seguidores e partiu para Medina onde, após meditações se tornou o Profeta. Na prática, a religião que Maomé criava naquele momento era o reflexo do caldo cultural de Meca: Um pouco de cristianismo, muito judaísmo e um belo tempero árabe.
A lei continuou sendo o “olho por olho, dente por dente”, mas introduziu uma mudança fundamental: “A retribuição por uma injúria é uma injúria igual”, mas agrega-se um complemento: “Aqueles que esquecerem a injúria e buscarem a reconciliação, serão recompensados por Deus” (Alcorão, 40,20). Além do mais estabelecia que dentro da igualdade Ummah, não existiam “fiéis mais iguais” como acontecia na elite de Meca. Mesmo sendo polígamo, concedeu um direito importantíssimo às mulheres: elas podiam herdar propriedades e os maridos não se apossavam mais dos dotes de casamento, pagos pelo pai da noiva. O dinheiro deveria ser mantido como uma poupança exclusiva da mulher, funcionando como um seguro em caso de divórcio.
Não era um povo pacifico, na surata 9, versículo 5 diz: “Matem os idólatras, onde quer que eles estejam; capturem acossem, embosquem”. Era dirigido aos inimigos de ocasião, não a qualquer um que não fosse muçulmano. Não é um preceito teísta.
Isso não significa que o Islã tenha mais apreço à violência que outras religiões. O Antigo Testamento está repleto de cruentas batalhas e o próprio Cristo, que aconselhava dar a outra face chegou a dizer: ”Não pensem que vim trazer a paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada” (Mateus, 10,34).
Maomé reuniu 10.000 homens e partiu para conquistar Meca em 629, que não ofereceu resistência. Com Meca sob controle era agora o homem mais poderoso da Arábia. Um destino bem diferente do que se poderia vaticinar a um menino que ficou órfão aos 7 anos.
Seu primeiro ato foi libertar todos os escravos de Meca. O segundo, despejar os deuses da Caaba, consagrando o santuário exclusivamente a Allah. Poupou as estátuas de Jesus e da Virgem Maria, os únicos personagens do Alcorão representados por imagens dentro da Caaba.
Voltou para Medina onde morreu em paz aos 62 anos, deixando 12 viúvas, 3 filhos, 4 filhas e uma nova nação. Abu Bakr, 58 anos, assumiu a presidência do Islã tornando-se o primeiro califa. O jovem Ali, 30 anos, favorito de uma parcela da população criou uma dissidência conhecida como “xiita”, uma minoria de 10%. Os apoiadores de Abu Bakr são os “sunitas”.
Os sucessores do Profeta não pararam em Meca, continuaram a expansão e 50 anos depois da morte de Maomé dominaram o Irã. Mais 50 anos o norte da África e parte da Índia. Outros 50 e dominaram a Espanha.
Não foi apenas um dos maiores impérios do mundo, foi um dos mais criativos também. Enquanto a Europa afundava na escuridão da Idade Média, deixou como legado a ciência. Boa parte da matemática, inclusive a introdução do zero, fundamental, veio com os gênios que nasceram sob a religião de Maomé. Uma religião, humanitária, que ao propor uma sociedade menos desigual encarnou muito do que a humanidade tem de melhor.
QUE UMA SÚCIA DE PSICOPATAS ENSANDECIDOS NÃO ACABE COM ESTE LEGADO.
LEMBREMOS QUE A “SANTA INQUISIÇÃO” E AS “CRUZADAS” NÃO FICARAM NADA A DEVER EM CRUELDADE AOS SEGUIDORES DA “AL QAEDA” E, ATUALMENTE, AO “ISIS” E “BOKO HARAM”. Mas desses assuntos trataremos em colunas futuras.
Fonte: Alexandre Versignassi
The Oxford History of Islam – John L. Esposito, Oxford University Press, 1.999
No God But God – The Origins, Evolution, and Future of Islam – Reza Aslam, Random House, 2.011
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado