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Mimados

Existem vários tipo de pais, dentre eles, os super protetores, os que não sabem dizer não, os que “soltam” os filhos desde cedo, etc. Qual é o mais saudável não se sabe ao certo, o consenso é que o equilíbrio é a melhor solução. Fazendo uma comparação com a economia, podemos dizer que cada uma é filha de seu respectivo país, em que o Banco Central seria o pai, e a presidência, o avô. A figura do avô passa experiência, sabedoria e liderança, mas além disso é também quem tira os filhos da linha dura dos pais, “deseduca” um pouquinho os netos e afrouxa um pouco as regras. Os pais por sua vez, são responsáveis pela educação, impõem limites e determinam até onde os filhos podem ir.

Levando a história para os EUA, onde, atualmente, a situação é problemática nos deparamos com situação frágil e pouco sustentável economicamente, em que a retirada de incentivos está causando desaceleração do crescimento e mostrando que o país ainda não tem condições de andar por conta própria. Digamos que depois do tombo da crise financeira de 2008, a economia precisa de uma ajuda para se levantar. Nesse momento, os avós, mais conhecidos como Barack Obama, adotam um papel secundário, anunciando que estão preocupados, mas,  confiante de que a economia americana está no rumo certo da recuperação (sinalização de apoio as medidas adotadas pelos “pais”). Os pais, por sua vez – Federal Reserve – estão naquela situação de tentar ajudar o filho, mas sem dar todas as ferramentas, tentando estimular que ele consiga algumas coisas por si só, e não fique “mimado”, uma vez que para a economia, é muito mais fácil contar com uma ajuda extra.

No Brasil, nosso “avô” Lula, cujo governo foi visto com muitos bons olhos por personalidades internacionais e nacionais, com mais de 80% de aprovação por parte da população brasileira, foi de fato, um ótimo avô, que ao mesmo tempo que exerceu seu papel de liderança e usou o conhecimento para “navegar” o nossa economia de forma consistente, ele deseducou um pouquinho os seus netos, ao aumentar salários, fazer investimentos gigantescos, e assim, aumentar os custos de manutenção do país.

Nos tornamos um pouco mais mimados – os gastos do governo impulsionaram a economia, que agora tem uma população com maior poder aquisitivo, e que quer consumir mais, viajar mais e etc – mas aí vem o mal comportamento, a pressão de alta nos preços. É nesse ponto em que vemos a necessidade de atuação dos “pais” – o banco Central está ciente da situação e cabe a ele colocar limites no que estiver indo no sentido errado. A alta dos preços é uma “mal criação” da nossa economia, e como conseqüência estamos tendo uma alta na Selic, que deve limitar um pouquinho a agitação da atividade.

Em suma, podemos dizer que gerenciar um país é tão difícil quanto criar filhos. Alguns exageros ali e outras contenções aqui podem desestabilizar o crescimento, de forma que depois, algumas medidas como “castigos e contenções” sejam necessárias para assegurar a sustentabilidade e consistência do desenvolvimento.

Na próxima semana, o comportamento dos pais americanos e brasileiros serão o destaque dos mercados acionários. O Federal Reserve deve anunciar a manutenção da taxa básica de juros ente 0,0% e 0,25%, enquanto o mercado espera que ele anuncie também outros tipos de incentivo, como injeção de liquidez na economia através da compra de ativos, ou alguma medida que impacte diretamente visando o aquecimento do mercado de trabalho do país.

Internamente, o Banco Central terá mais uma decisão do Copom em relação a taxa básica de juros. Atualmente a Selic está em 10,75% e o mercado está atento a decisão, que pode terminar com o ciclo de aperto monetário (liberar a economia de mais “castigos”) ou aumentar em 0,50% a Selic, de forma a conter ainda alguma mal criação que possam vir no futuro, como o descolamento da inflação de sua meta.

Fernanda Camino, Economista da XP Investimentos

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