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Moedas sociais substituem real em comunidades paulistas

Apuanãs, freires, sampaios, vistas lindas ou moradias em ação. Em algumas comunidades dentro de São Paulo, a moeda preferencial deixou de ser o real.

No Jardim Maria Sampaio, na zona sul da capital, a moeda que circula desde setembro do ano passado é o sampaio. No Jardim Filhos da Terra, na zona norte, os comerciantes passaram a aceitar os apuanãs. Junto com os freires (do Jardim Inácio Monteiro, na zona leste), os vistas lindas (do Jardim Donária, na zona oeste) e os moradias em ação (do Jardim São Luiz, na zona sul), o sampaio e o apuanã compõem as cinco moedas sociais aceitas pelo comércio de São Paulo desde meados do ano passado.

Em todo o Brasil, existem atualmente 51 moedas sociais. Elas não substituem o real – a ideia é que funcionem de modo complementar à moeda nacional, mas desenvolvendo as economias locais. Para isso, é preciso que tenham lastro em real, ou seja, para cada uma das moedas sociais usadas, deve-se ter “guardada” uma moeda em real.

Reconhecidas pelo Banco Central, as moedas sociais só podem existir em comunidades que tenham uma forte associação de moradores.

Elas podem ser vinculadas a pelo menos duas estratégias: aos clubes de trocas ou aos bancos comunitários. “A ideia é trazer de volta a moeda como um instrumento de troca, potencializando sua circulação e reduzindo a ideia de acumulação”, explicou a psicóloga Juliana de Oliveira Barros Braz, doutoranda em psicologia social e pesquisadora do Núcleo de Economia Solidária da Universidade de São Paulo (USP).

“A idéia é que as pessoas comprem e façam circular essa moeda porque acumular [a moeda social] não tem muito sentido”, afirmou Juliana, em entrevista à Agência Brasil. “É um estímulo ao consumo local, no próprio bairro, um estímulo ao desenvolvimento econômico na comunidade.” Segundo a psicológa, o sistema tem ainda uma função de identidade, ou seja, faz com que as pessoas consumam no bairro onde moram, usando uma moeda que tem o nome do bairro.

Para estimular a população a usar a moeda social, os comerciantes apelam para os descontos. Com isso, o dinheiro passa a ficar na própria comunidade. “Os bairros não são pobres. As pessoas é que perdem a poupança quando consomem fora dele. Quanto mais dinheiro ficar na comunidade, mais ele vai circular internamente e mais riqueza vai gerando. Quanto mais vezes ele passar de mão em mão, mais se estará gerando valor e riqueza”, disse a pesquisadora.

Além dos descontos, para fazer crescer o uso dessas moedas são realizados mapeamentos de consumo e produção para avaliar a necessidade dos consumidores e se há produção suficiente na comunidade para atendê-los.

A comunidade também se organiza em fóruns para discutir questões como os juros e as diretrizes dos bancos comunitários na concessão do crédito. “Não estamos preocupados se você tem o nome sujo no SPC [Serviço de Proteção ao Crédito], na Serasa [Centralização dos Serviços Bancários S/A], se está em atraso com as prestações de uma loja. Isso não seria motivo para a pessoa não obter crédito. A forma de concessão é o aval da própria comunidade”, explicou.

O primeiro banco comunitário brasileiro foi o Banco Palmas, que surgiu em 1998 no Conjunto Palmeira, bairro da periferia de Fortaleza. Em 2003, a comunidade se organizou e criou o Instituto Palmas, que hoje serve de apoio para o surgimento de outros bancos comunitários. A expectativa para os próximos dois anos, segundo Juliana, é de que sejam criados mais 100 bancos comunitários em todo o Brasil.

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