Não ponhais a candeia debaixo do alqueire

Jesus, à época de sua passagem pela Terra, falava-nos por parábolas: já o sabemos. A imperfeição do Homem, contudo, distorceu-Lhe ou mesmo deixou incompreendidas muitas passagens. Lendo o Capítulo XXIV…

Jesus, à época de sua passagem pela Terra, falava-nos por parábolas: já o sabemos.

A imperfeição do Homem, contudo, distorceu-Lhe ou mesmo deixou incompreendidas muitas passagens.

Lendo o Capítulo XXIV do Evangelho Segundo o Espiritismo (em que são citados os Evangelhos de Mateus, Lucas, Marcos e João) temos o enfoque a que nos referiremos.

Interpretar os textos religiosos que herdamos de nossos antepassados é um exercício tão fascinante quanto árduo, principalmente para o leigo, como a maioria de nós.

Dois pontos que dificultam as interpretações: o vocabulário e o entendimento dos costumes e valores sociais e culturais da época.
Pelo título deste, comecemos:

– Candeia: pequena luminária utilizada na época.

– Alqueire: para os dias de hoje, medida de terra (equivalente a 1,2 hectares em SP, variando no Brasil, conforme o estado e em outros países também).

O título então ficaria incompreensível, sendo entendido algo como “colocar uma luminária debaixo da terra”.

O alqueire a que se refere o texto é na verdade uma palavra vindo da cultura árabe (al kayl) designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punha, atadas, sobre o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga.

Assim sendo, interpretaríamos a expressão por algo como “colocar a candeia embaixo (ou dentro) de uma cesta”, ocultando-a.

A partir dessa metáfora, o Cristo colocou aos homens da época a inutilidade (ou egoísmo) de se possuir uma luz e ocultá-la.

Assim interpretou Lucas: “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; – pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente.” (Cap. VIII).

Inquirido pelos discípulos sobre o porquê de se dirigir ao povo por parábolas, o Cristo nos esclarece: “É porque, a vós outros (os discípulos), foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus; mas, a eles, isso não lhes foi dado.”

Ainda que possa parecer contraditório, afirmando que nada deva se ocultado, no que se refere aos ensinamentos de que necessita a Humanidade, o Cristo não revelava tudo a todos, inclusive aos seus discípulos.

Não por ser algo secreto, mas por ser, ainda, incompreendido no atual estágio em que se encontravam.

E assim é em todos os aspectos do ser humano.

“Dá-se com os homens, em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade.”
Qual o pai que, tendo filhos em idade infantil, lhes ensinará coisas que só compreenderão quando adultos?

O Homem está hoje em condições de entender mais profundamente o que em tempos idos não podia.

A ciência torna a visão do homem mais penetrante, mais aberta a um horizonte incomensurável de realidades que sente ainda muito longe, mas vislumbra o caminho.

O homem de hoje já domina o átomo, já sabe da relatividade e efêmera existência de partículas que nas mesmas condições de existência, nunca o são iguais.

A ciência de hoje já não pode negar a existência de um universo muito mais rico e intangível aos nossos sentidos.

Não pode negar fenômenos da consciência, que tornam patente a permanência da individualidade humana após (e antes) a morte corporal.

Com o passar do tempo, algumas religiões que insistem em manter seus mistérios “debaixo do alqueire” vão ficando para trás.

A Ciência e a inteligência avançam inexoráveis, como a verdade.

À medida que o Homem entende a si a ao universo, a ventura vai ficando mais próxima.

“A verdade vos libertará”, disse-nos o Cristo.

A verdade é uma só. Há formas de olhá-la, vestidas com esta ou aquela plumagem cultural.

Muito nos adiantaremos cientifica e moralmente quanto  mais esforço fizermos para iluminar nossas mentes e corações com a verdade, a razão, pois que sem ela, a construção de nossa sã consciência: a fé, não se sustentará.

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Tenhamos paciência, mas, sobretudo perseverança, buscando nortear nossa vida pelo caminho da coerência, da razão, da moral cristã, enfim, pelo Evangelho do Cristo.
 
“Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra, ele ainda se encontra em pleno nevoeiro.”

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