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Não se joga uma antologia ao sabor dos ventos – Sergio Agra

Não se joga uma antologia ao sabor dos ventos - Sergio AgraSERGIO AGRA – Intelectual não vai a praia. Intelectual bebe.

NÃO SE JOGA UMA ANTOLOGIA AO SABOR DOS VENTOS

A Professora, escritora e editora Rozelia Scheifler Rasia, de Cruz Alta, graduada em Licenciatura em Letras pela Universidade de Cruz Alta, formada em Ciências Políticas e Econômicas também pela Universidade de Cruz Alta, Mestre em Letras pela Universidade de Passo Fundo, é professora do Curso Metodologia e Pesquisa Acadêmica e Organizadora de Publicações Literárias e Acadêmicas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Literaturas, Educação e Metodologia da Pesquisa, Produções Literárias. É ainda presidente de A Palavra do Século 21– ALPAS – e presidente da Editora Gaya, que neste 2019 prepara a 21 ª edição da Antologia de Poesias, Crônicas e Contos por ela coordenada com extremo sucesso desde 1998.

Não se pode negar que a formação e o currículo da Professora Rozelia não tenham sido preponderantes para o êxito do Projeto Alpas. Organizar uma Antologia – com Poesia, Crônica e Conto – em que participam quase uma centena de autores selecionados, distinguindo com exatidão cada um daqueles gêneros (Poesia, Conto e Crônica) não é tarefa inexistente de óbices para especialistas, o que se dizer para amadores. Se tal discernimento não houvesse, o que se pretende seja uma Antologia transforma-se zombeteiramente num “Samba Literário do Escritor Doido”, lembrando os versos de antigo Samba do Crioulo Doido, de Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

Equívoco maior do que o do autor sequer saber qual gênero fora o texto por ele efetivamente escrito é o das comissões organizadoras de antologias desconhecerem onde “encaixar” o texto a ser editado.

Ponto, nova linha, parágrafo.

Pelas mãos de dileta amiga caiu-me às mãos o exemplar de uma antologia litorânea em que a mencionada insipiência dos gêneros formatados (eximindo-me por ora em tecer comentários sobre as prosas e os versos que minha paciência suportou e permitiu que eu os lesse) é percebidapelo leitor mais versado.

Lamento que nenhum de seus autores venha a ler este artigo (soube que eles renegam a leitura de textos por mim assinados), vez que, no caso, este seria um bom ensinamento para publicações futuras.

crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.

Uma vez, nos anos 80, Analdino Paulino coordenou uma edição de crônicas de amor para um livro que seria brinde da Credicard. Convidou dez autores, entre eles nada mais nada menos do que Ignácio de Loyola Brandão. Seu trabalho foi devolvido pelo então diretor de marketing do cartão de crédito. Estava ruim? “Não! –disse o coordenador – Estava bom! O Paulino até gostou!” “E por que recusou?” “Porque ele pediu crônica e você mandou um conto”. “Ah, e o que é conto e o que é crônica para ele?” A resposta serviu para os milhares de teóricos que queimam cabeça. “Porque – disse o marqueteiro culto – uma crônica não tem diálogos. E como a sua tem, é conto”.

O conto, por sua vez, é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge. No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. Há, por exemplo, contos de Machado de Assis ou Tchekov nos quais, simplesmente, nada acontece. O essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo.Tchekov ainda preleciona: “Se houver no meu conto a palavra revolver é porque ele será usado!” o mestre, em outras palavras ensina que as “gorduras” não se fazem necessárias.

Caso algum generoso leitor identifique a referida Antologia e conheça alguns de seus autores, as dicasabaixo são graciosas:

Usar poucos personagens e contar a história de um ponto de vista. Devido às limitações de formato dos Contos, não haverá espaço para mais do que uma ou duas personagens. É essencial que a caracterização destes seja feita de forma económica, mais ainda se não forem protagonistas da história. Ter apenas um ou dois protagonistas irá limitar a oportunidade de mudar de ponto de vista e, de incluir mais perspectivas.

Limitar o tempo no qual decorre a ação – É impossível ser-se bem sucedido se tentarmos incluir um lapso temporal muito grande. Ao limitar o tempo no qual decorre a ação, podemos focar-nos nos eventos que são realmente determinantes para a narrativa.

Ser seletivo – Todas as palavras utilizadas devem servir para construir as personagens ou para fazer a ação avançar. É preciso evitar palavras que não tenham objetivos concretos que sirvam a história.

Seguir a estrutura convencional da história – Exposição, Conflito, Crise, Clímax e Resolução devem ser usados como guia, apesar de podermos usar uma estrutura que não inclua todas estas fases. Podemos experimentar coisas novas mas, devemos manter o essencial como o Conflito e a Resolução e não esquecer que as primeiras linhas de texto assim como as últimas devem ser as mais fortes.

Quanto às poesias ali editadas? Deixemos para outro momento, que tal a semana seguinte, ok?

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