NK – Células assassinas
Em coluna anterior (A digestão1 – 15/08/2017) destaquei que uma Mercedes não pode ser comparada com um humano. Ela é infinitamente mais simples, menos sofisticada, dependente para tudo, inclusive manutenção e reparos. Um ser humano por sua vez, tem capacidade de regeneração extraordinária. Arranhões, ferimentos, agressões externas e uso indevido são resolvidos sem necessidade de profissionais, a não ser quando ultrapassam limites perfeitamente delimitados.
Esta capacidade é devida ao sistema imunológico que protege o organismo contra doenças, é inato e dá resposta imediata a agressões. Em conjunto com outros fatores não apenas recompõe agressões como também aprende e aprimora suas potencialidades. Até certo limite consegue impedir o surgimento de doenças e, depois de instaladas, devolve a saúde ao organismo.
Vamos abrir um capítulo para um grupo de células, as NK, células assassinas, que têm como finalidade eliminar células cancerígenas, por exemplo. É baseado nelas que a hematologista Lúcia Silla, do Hospital de Clínicas, Porto Alegre, com a colaboração do técnico norte-americano Dean Lee, desenvolve uma técnica que pode substituir o transplante de medula óssea para combater a leucemia.
Os linfócitos NK (Natural Killer) são células matadoras naturais, ou células assassinas e fazem parte de 10-15% dos linfócitos do sangue. São células citotóxicas (tóxicas para as células) importantes na resposta precoce às células tumorais e infecções virais. Elas destroem as células tumorais ou infectadas por vírus. Este processo é chamado de resposta imune inespecífica, pois não requer reconhecimento prévio ou qualquer memória imunológica.
As células NK são oriundas da medula óssea, possuem tamanho ligeiramente maior que os linfócitos pequenos. Seu citoplasma é caracterizado por grânulos citotóxicos que contêm potentes mecanismos que destroem a célula-alvo. São ativadas precocemente em uma resposta imune e não requererem sensibilização prévia.São altamente eficientes em reconhecer e exterminar as células que apresentam alterações ou são atacadas por vírus.
As células infectadas por vírus e as células cancerígenas são susceptíveis ao ataque das células NK. As células normais não são destruídas pelas células NK.
Zero Hora, 14/09/2017 publica uma reportagem da qual retiramos alguns tópicos:
“Um tratamento promissor para combater a leucemia, que pode eventualmente substituir, com maior eficácia e segurança o transplante de medula óssea está sendo pesquisado no Rio Grande do Sul. Fazendo uso de células NK, aplicadas por via injetável, essa forma experimental de tratar o câncer vem apresentando resultados considerados surpreendentes nos pacientes em que foi testada até agora e que já haviam passado por outros tratamentos convencionais, como a quimioterapia. Um deles teve uma recaída mesmo após um transplante de medula óssea.
O estudo está sendo desenvolvido no Brasil exclusivamente pelo Centro de Tecnologia e Terapia do HCPA. A iniciativa é uma parceria com o MD Anderson Cancer Center do Texas, nos Estados Unidos, onde foi desenvolvida uma tecnologia pioneira de fabricação de células NK. A técnica ainda não foi aprovada por órgãos de controle de medicamentos como a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora americana, oua Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os primeiros testes começaram em 2012, e agora o remédio, com nome comercial de Kymriah, poderá ser usado em hospitais para o tratamento de leucemia linfoide aguda. O custo estimado ainda é exorbitante: US$ 475 mil por paciente. A expectativa é de que o tratamento com as células NK seja bem menos custoso após uso generalizado.
Até agora não encontramos câncer resistente a essas células, usamos essa tecnologia em pacientes com câncer de ovário, de mama, tumores cerebrais. Os melhores resultados foram em pacientes com leucemia, afirma Dean Lee”.
Jayme José de Oliveira
Cirurgião-dentista aposentado