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Nobel sem face

O Premio Nobel da Paz de 2013 foi conferido para a Organização para a Proibição de Armas Químicas, pelo seu esforço em banir este material bélico usado na guerra civil da Síria.

Confesso que tenho uma certa dificuldade em inferir direito esta história. Segundo um código de ética estapafúrdio adotado pelos EUA, a “linha vermelha”, a qual o assassino e ditador sírio Bashar al-Assad não poderia ultrapassar, fora delimitada pelo uso ou não de tais armas. Antes de o governo sírio lançar seu arsenal químico sobre civis inocentes, já havia morrido mais de 110 mil pessoas, entre as quais milhares de crianças. Enquanto a hecatombe se desenrolava, o fraco presidente dos EUA, Barack Obama, deixou subentendido que Assad poderia, sim, continuar a chacinar crianças, contanto que elas fossem explodidas em mil pedaçinhos por mísseis, tivessem as cabeças perfuradas por projéteis ou decapitadas por cimitarras, mas nunca asfixiadas por gás. – “Isso é intolerável!” – disse o ganhador do Premio Nobel da Paz de 2009 e “dronero” contumaz.

Entre os nomes que foram indicados ao Nobel da Paz 2013 constava também, nada mais nada menos, o de Vladmir Putin, ex- agente da KGB e ex- Tenente Coronel da URSS. Putin tem governado a Rússia ora como presidente, ora como primeiro ministro desde a resignação de Boris Iéltsin, em 1999. Seu governo, caracteristicamente soviético, foi marcado pela rigidez para com os rebeldes chechenos, pelo resgate do nacionalismo russo, pela homofobia, pelo tolhimento das liberdades individuais e alguns assassinatos não esclarecidos de seus opositores políticos, além, é claro, de ser fiel aliado do regime encarniçado de Assad. Como diria minha avó, “um doce de pessoa !”

Definitivamente não há bandidos ou mocinhos no conflito sírio; é um verdadeiro concubinato de fanáticos delirantes, tanto de um lado, como de outro, mas o remate do morticínio de civis inocentes  não pode mais ser procrastinado em favor de um imperecível “blábláblá”,  promovido entre as  potencias mundiais no Plenário da ONU. O déspota tem que ser deposto! Os problemas subsequentes à queda de Assad são conjecturas políticas, mas a realidade é intragável.

O Premio Nobel da Paz de 2013 foi  institucional, burocrático e impessoal. Faltou-lhe identidade, carisma, abnegação e até um certo martírio, que faculta aos laudeados uma inspiração heroíca e romantica. Enfim faltou-lhe uma face humana.

Qual rosto compartibilizar-se-ia melhor com a Paz  do que o da intrépida jóvem de 16 anos, a paquistanesa Malala Yousafzai?Para quem não se recorda, Malala foi alvejada na cabeça por talibãs em outubro de 2012 quando retornava da escola. Seu crime foi se destacar entre as mulheres e lutar pela educação das meninas e adolescentes no Paquistão – um país dominado pelos fundamentalistas, contrários à educação das mulheres.

Inexplicavelmente, os burocratas noruegueses não a recompensaram com o premio e, pela segunda vez consecutiva, uma instituição levou a melhor (no ano passado foi a União Europeia). Covardia? “Conveniência”?

Para alguns lunáticos, entre eles vários patetas da extrema esquerda brasileira que não poderiam de deixar de fazer parte do bando, Malala é acusada de ser marionete do Ocidente e, nos delírios mais supremos, de ser agente da CIA que fabricou o atentado com o intuito de difamar o Islã.

Relativizar o sofrimento imposto pelo Talibã a esta jovem, em nome de um antiamericanismo parvo, motivado mais por complexo e emulação do que pelo argumento é. no mais brando dos termos, sórdido e repulsivo.

O porta-voz do Talibã, Shahidullah Shahid, comemorou muito a decisão: – “Estamos felizes que ela não tenha ganhado. Nós já tínhamos dito que ela não o merecia. Ela não fez nada de importante”, afirmou Shahid por telefone à agência francesa de notícias AFP. “O prêmio deveria ir para verdadeiros muçulmanos que lutam para defender o islã.”

 Pelo andar da carruagem, não duvidemos que o próprio carniceiro  Bashar al-Assad, por ter aceito entregar seu arsenal químico à ONU, seja também sondado para receber algum premio alusivo à paz ou aos Direitos Humanos.

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