O destino do homem mal e do homem bom – Dr. Sander Fridman
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Assim, em 1914, desde o Senado Federal, Rui Barbosa emprestou-nos palavras históricas para expressar, para sempre, o sentimento de uma nação.
Por outro lado, no mundo animal, seriam os méritos e a consideração umas pelas outras, que fazem triunfar as criaturas na busca pelos meios de sobrevivência? Seria assim diferente na arena humana?
O pensamento materialista não raro considera como oponentes entre si o comportamento social moral e a busca efetiva da satisfação das necessidades. O pensamento ético-religioso, ao contrário, comumente entende que o bom comportamento, fundado em respeito, coesão, moral e verdade, geram sociedades que colaboram entre si, apoiando uns aos outros, levando a um crescimento material e espiritual de todos.
O pensamento materialista, tomado equivocadamente por científico, esquece-se de que o campo do conhecimento que estuda empiricamente o comportamento animal, a etologia, apresenta numerosos exemplos em que a coesão opera, não somente, como alternativa eficaz e efetiva para o individualismo individualista, como até mesmo como única alternativa possível. E explica a primazia das sociedades humanas sobre as demais espécies da natureza pela capacidade humana de agir em grupos coordenadamente, aprenderem uns com os outros, aprimorando por isso e para isso nossas habilidades linguísticas, constituindo prova irrecusável de que a cooperação e a coesão são as chaves para o sucesso de nossa espécie.
Como constituir uma sociedade cooperativa e coesa num ambiente de violações de regras, direitos e pessoas? Dentro de uma sociedade humana, no choque entre grupos internos a ela, triunfarão as que contarem com as melhores qualidades de cooperação e coesão – e isso tende a ser questão de tempo. O grupo que mais se multiplacará, que mais crescerá, tenderá sempre a ser aquele que preservar e proteger todos e cada um de seus membros, em que todos se mostrarem comprometido uns com os outros, sem mágoas e revoltas excessivas.
Por mais que os grupos de Homens Maus tenham inegável poder de causar danos contra os grupos de Homens Bons, a infinita capacidade daqueles de causar dano e frustração acaba sempre por alcançar, principalmente, os membros de seu próprio grupo, levando a que sucumbam em ineficácia, revolta e desconfiança, fragilizando-se assim face aos grupos de Homens Bons, que assim deverão, por fim, triunfar.
Que bom poder usufruir de esperança!
* O Dr. Sander Fridman é psiquiatria legal, e recebeu Prêmio Nacional do Dpto. de Psiquiatria Legal da Associação Brasileira de Psiquiatria, por pesquisa científica
desenvolvida no Programa de Ética e Psiquiatria Forense do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.