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O DNA é mesmo o segredo da vida?

O psicólogo e neurocientista Steven Pinker é, no mínimo, polêmico quando assunto envolve genética. Professor em Harvard e autor de Tábula Rasa, O instinto da linguagem e Como a mente funciona, todos com edições em português, para Pinker nossa condição intelectual, e nossas predisposições para algumas habilidades em especial, em detrimento de outras, não está ligado a nossa condição social e suas imbricações como meio. Ou seja, a teoria da Tábula Rasa, de que nascemos sem nenhum “software” instalado no cérebro e de que vamos, ou vão – se pensarmos que somos moldados pela sociedade que nos cerca -, nos condicionando para certas escolhas e desenvolvendo aquilo que aprendemos com o tempo. Uma predisposição genética, a herança traçada pelo DNA, seria o fator determinante na diferença de pessoas mais, ou menos, inteligentes. Os homens não seriam iguais.

Desde que a ciência vem tentando relacionar os estudos de DNA com outros ramos de pesquisa algumas questões vem sendo colocadas na mesa do debate acadêmico. As possibilidades de que possamos prever, ou conhecer, as predisposições a doenças e outras deficiências causadas por erros no código genético é uma delas. Mas será que Pinker está certo, nossa condição intelectual e capacidade de desenvolver certas habilidades, sejam elas esportivas, artísticas ou intelectuais, também dependem do nosso código genético, do DNA?

Para James D. Watson e Andrew Berry “a diferença [genética] entre os seres humanos é mínima; e a diferença que ela faz é ainda menor”. Como exemplo de populações com parentesco genético muito próximo, mas em diferentes estágios de evolução tecnológica utilizamos duas tribos neozelandesas estudadas por Jared Diamond em Armas, germes e aço: os mariores (caçadores-coletores, nômades) e os maoris (agricultores, sedentários).

Para a antropologia, e para um grupo de geneticistas, o desenvolvimento das sociedades humanas não está relacionado à eventual superioridade de um gen sobre o outro. Tudo, ou quase tudo, é determinado pelo meio (área, região, continente, a natureza em fim). Hábitos, costumes, línguas e cores, estão intrinsecamente ligados as possibilidades que o meio oferece a um determinado grupo humano. Obviamente que a adaptação ao meio modifica o gen. A capacidade que nossos ancestrais tinham de se readaptar a meios diferentes foi o fator principal e que fez a grande diferença. Consequentemente há a ação da seleção natural e alterações no DNA em gerações futuras. Podemos exemplificar essa ideia com o desaparecimento do Neandertal. Adaptado ao clima frio da Era do Gelo na Europa provavelmente ele não sobreviveu ao aquecimento global, entre outras consequências do degelo e das suas relações com o Sapiens.No entanto, o Sapiens, nossa espécie, conseguiu não só sobreviver como adaptar-se tão bem ao meio que somos os únicos hominídeos a restar sobre a face da Terra. A ciência do DNA não consegue explicar ainda que ligação há entre o Neandertal e o Sapiens, mas sabemos por que um e não o outro sobreviveu. Pela adaptação.

A polêmica em torno de Pinker é justificável. A “ciência” chamada eugenia ainda causa pânico em muita gente.

Essa “ciência” tentou criar talentos em laboratório antes. Os Lebensborns da SS de Himmler são talvez o maior exemplo. Com a ideia de que poderia produzir uma nova raça de super-homens Himmler selecionou “os melhores espécimes” da Alemanha: louros, olhos azuis, portes físicos simétricos e atléticos e de elevado nível intelectual. Tal “ciência” não passou de barbárie e levou tanto Alemanha quanto Europa a um de seus períodos mais sombrios.

Mas esse “projeto” eugênico não foi invenção do nacional-socialismo alemão como todos podem pensar – e sempre pensam. Um dos principais mentores dessa ideia foi Francis Galton, primo de ninguém menos do que Charles Darwin. No século XIX, o século do darwinismo social, de Herbert Spencer, por exemplo, creditou a pobreza como sintoma de uma inferioridade evolutiva…

Ainda temos pouco conhecimento sobre as ações e funções do DNA na vida humana. Apesar do Projeto Genoma e de muita coisa já ter sido descoberto, ainda há muito por descobrir. Assim com há cem anos sequer sonhávamos com o DNA, hoje não temos ideia de onde iremos com essa ciência que parece estar relacionada com todas as outras.

Einstein, Mozart e Pelé, apenas para citar alguns dos maiores gênios da humanidade em suas áreas, tiveram filhos “normais”, sem qualquer desenvolvimento excepcional na área em que o pai se destacou. No caso de Mozart, por exemplo, passados mais de 200 anos de sua morte não se conhece no mundo um descendente seu, mesmo que colateral, com a capacidade e aptidão musical dele.

Então será que o DNA pode mesmo fazer a diferença e servir para uma análise do ser humano com um todo?

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