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O momento atual – Por Dom Jaime Pedro Kohl

IMG_1180-195x300111111111Certamente, todos estamos preocupados com o momento crítico pelo qual passa nosso país. Voltando de Aparecida a pergunta mais frequente é: o que pensa e qual é a posição da Igreja Católica sobre os acontecimentos atuais? Nada melhor para responder que a mensagem que nós bispos elaboramos e aprovamos por unanimidade. Ei-la:

  1. Nós, bispos católicos do Brasil, reunidos em Aparecida, na 54ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frente à profunda crise ética, política, econômica e institucional pela qual passa o país, trazemos em nossas reflexões, orações e preocupações de pastores, todo o povo brasileiro, pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes, 1).
  2. Depois de vinte anos de regime de exceção, o Brasil retomou a experiência de um Estado democrático de direito. Os movimentos populares, organizações estudantis, operárias, camponesas, artísticas, religiosas, dentre outras, tiveram participação determinante nessa conquista. Desde então, o país vive um dos mais longos períodos democráticos da sua história republicana, no qual muitos acontecimentos ajudaram no fortalecimento da democracia brasileira. Entre eles, o movimento Diretas Já!, a elaboração da Carta Cidadã, a experiência das primeiras eleições diretas e outras mobilizações pacíficas.
  3. Neste momento, mais uma vez, o Brasil se defronta com uma conjuntura desafiadora. Vêm à tona escândalos de corrupção sem precedentes na história do país. É verdade que escândalos dessa natureza não tiveram início agora; entretanto, o que se revela no quadro atual tem conotações próprias e impacto devastador. São cifras que fogem à compreensão da maioria da população. Empresários, políticos, agentes públicos estão envolvidos num esquema que, além de imoral e criminoso, cobra seu preço.
  4. Quem paga pela corrupção? Certamente são os pobres, “os mártires da corrupção” (Papa Francisco). Como pastores, solidarizamo-nos com os sofrimentos do povo. As suspeitas de corrupção devem continuar sendo rigorosamente apuradas. Os acusados sejam julgados pelas instâncias competentes, respeitado o seu direito de defesa; os culpados, punidos e os danos, devidamente reparados, a fim de que sejam garantidas a transparência, a recuperação da credibilidade das instituições e restabelecida a justiça.
  5. A forma como se realizam as campanhas eleitorais favorece um fisiologismo que contribui fortemente para crises como a que o país está enfrentando neste momento.
  6. Uma das manifestações mais evidentes da crise atual é o processo de impeachment da Presidente da República. A CNBB acompanha atentamente esse processo, mas sobre ele não emite juízo valorativo, jurídico ou político, pois tal procedimento cabe às instâncias competentes, respeitado o ordenamento jurídico do Estado democrático de direito.
  7. A crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos Poderes da República, restaure a credibilidade das instituições, assegure a governabilidade e garanta os direitos sociais.
  8. De acordo com a Constituição Federal, os três Poderes da República cumpram integralmente suas responsabilidades. O bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais, partidários e corporativistas. A polarização de posições ideológicas, em clima fortemente emocional, gera a perda de objetividade e pode levar a divisões e violências que ameaçam a paz social.
  9. Conclamamos o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade. Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de informar e formar a opinião pública com isenção, fidelidade aos fatos e respeito à verdade.
  10. Acreditamos no diálogo, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças na busca de caminhos, que garantam a superação da atual crise e a preservação da paz em nosso país. “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se preocupar com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco).
  11. Pedimos a oração de todos pela nossa Pátria. Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, invocamos a bênção e a proteção de Deus sobre toda a nação brasileira.

Todas as palavras e temas foram pensados e votados, com a única preocupação de oferecer uma palavra de iluminação e referencia para o discernimento de cada um.

Quem acompanhou a votação da Câmara no domingo, certamente ficou com muitas outras perguntas e preocupações que não podemos ignorar. Nunca se ouviu pronunciar tantas vezes o nome de Deus em vão, num só evento.

Alguma coisa precisamos fazer como Igreja, a médio e longo prazo, para qualificar os políticos que nos representam. E aqui entra de cheio a missão dos leigos.

Esperamos que prevaleça, ao menos, o bom senso nesse momento de crise.

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osóriodomjaimep@terra.com.br

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