O “paraguay” não é aqui!
No último domingo estivemos em Porto Alegre. Era – como diria Machado de Assis – um domingo cristão, um domingo ensolarado, de pouco, ou quase nenhum vento, com todos os cenários de um domingo. E, por ser domingo, decidimos ir ao Brique da Redenção. O parque e as ruas adjacentes, como em todos os domingos de sol, regurgitavam de colorida e alegre multidão em direção àquela feira.
Quem conhece o Brique e lá não vai há muito, fique certo: – nada mudou desde o tempo da primeira banca de antiquário. Mas o charme sempre é o mesmo.
Foi, então, que me lembrei, com certa tristeza, até, da mais famosa feirinha de rua do mundo, a Feira de Portobello Road, no bairro de Notting Hill, em pleno coração de Londres. Quando lá estivemos, em viagem de estudo, a Feira constava como um dos programas de lazer. Por isso, num sábado outonal, deixamos o Regency House Hotel – uma simpática construção em estilo Georgiano, com seus tijolos escurecidos, datada do final do século XVIII, situado na Gower Street, a dois quarteirões do Museu Britânico e de Picadylli Circus, e a seis de Covent Garden – e, em alegre bando, dirigimo-nos ao famoso bairro de Notting Hill.
A Feira de Portobello, realizada há sessenta anos, teve o seu início como feira do antiquário. Ali, sem exagero, encontra-se de tudo: desde as mais estranhas, antigas e desconhecidas peças de uso pessoal e íntimo, vestuário, objetos de arte, esculturas, instrumentos musicais, gramofones, mobiliário, até a feira de frutas e verduras e a cozinha internacional, destacando-se a italiana.
A Feira está “fechando suas portas”, em razão do progresso ter transformado aquela numa das regiões mais chiques da capital inglesa. Os comerciantes estão revoltados porque são ameaçados pelos grandes centros comerciais e afirmam que por anos e anos foram obrigados a pagar taxas muito mais que os comerciantes de outros negócios que ficam na histórica rua de Portobello Road e que tudo isso os faz refletir, pelo fato que a prefeitura, em nome do progresso e das novas construções, não os quer ali e prefere que eles vão embora.
Por isso, mais do que nunca, entendendo que a área da praça José Agostinelli, de Capão da Canoa e o trecho da rua Pindorama – ora utilizados por barraquinhas de crepe e por camelôs que comercializam produtos (made in Paraguay) oriundos de descaminho –, devam ser ocupados, nos finais de semana, pelos artistas plásticos e os autênticos artesãos aqui residentes.
Apenas eles!