O que é a Psiquiatria Integrativa? Dr. Sander Fridman
A vida social, assim como até mesmo a vida técnico-científica, evoluem em “modas”, que respondem pela evolução e transformação daquilo que nos desafia, fascina, e responde a inquietudes e sentimentos.
Psiquiatria integrativa é um termo recente. Corresponde de modo especializado à Medicina Integrativa. Se persistirá e por quanto tempo só o tempo dirá. Foi precedido por um outro termo de quem é uma evolução: a medicina – e a psiquiatria – ortomolecular.
A medicina ortomolecular trazia para a prática clínica conhecimentos das ciências médicas básicas, em especial da bioquímica médica, da histoquímica e da fisiopatologia. Integrava em seu leque de interesses escolhas relacionados ao estilo de vida e higiene, alimentares, atividade física, exposição a toxinas, estado nutricional, e as teias entre estes elementos e a saúde e o desempenho nos desafíos da vida.
Era comum a pesquisa e a interpretação de complexas informações obtidas em mineralogramas. Não raro se lançava mão da quelação intravenosa, ao mesmo tempo em que algumas substâncias eram administradas pela via intravenosa.
O uso de macrodose de algumas vitaminas já era às vezes empregado, em especial para problemas para os quais a medicação baseada em informações estatísticas ainda não oferecia soluções suficientemente efetivas.
Neste campo, alguns grupos de profissionais empregavam procedimentos oriundos da homeotoxicologia (hemadíneo, injeção de substâncias autólogas), da iridologia, da biorressonância (também chamada de “ressonância magnética quântica”), e outros.
Havia originalmente uma tensão entre a medicina main-stream e a ortomolecular, ou biomolecular – a segunda se autodenominando como medicina alternativa, alguns a chamando de medicina “natural” (em oposição à “alopática”, ou primazia do uso de medicamentos industrializados).
Posteriormente, o termo e a proposição de medicina “alternativa” foi gradativamente substituído por Medicina Complementar, e muitas das proposições comumente empregadas na ortomolecular foram integradas às práticas mais convencionais.
A chamada Medicina Integrativa retomou, depois de muitos anos, a tradição da medicina ortomolecular, trazendo mudanças de ênfase, e resultados mais ambiciosos e previsíveis.
Dá menos relevância às intervenções sobre toxinas, preocupa-se em especial com estados inflamatórios crônicos, difusos, de baixo grau, destaca em especial o uso de intervenções com intermediários metabólicos, e intervêm mais frequentemente no estado metabólicohormonal.
Enquanto a Ortomolecular prometia alívio em doenças degenerativas e atenuação dos estigmas do envelhecimento em longo prazo, a Medicina Integrativa busca resolver problemas objetivos e mais imediatos do desempenho cognitivo, da capacidade e força muscular, da adaptação às demandas e ambições face ao cotidiano.
Um conhecimento maior, e a busca por intervenções eficazes especialmente dirigidas à vida microbiológica intestinal, como fatores determinantes do bem estar e da capacidade de bem desempenhar, foram acréscimos importantes à medicina ortomolecular, embora os primeiros professores e livro-textos a abordarem o tema proviessem das sociedades de medicina biomolecular e radicais livres, de oxidologia e de medicina ortomolecular.
Na época, muitos se ligaram à especialidade Nutrologia, hoje mais popularizada.
Mas não se pode dizer que a nutrologia, por si só, dá conta dos vários aspectos dava conta dos vários aspectos de Medicina Ortomolecular, então, ou da Medicina Integrativa hoje.
A relação entre a neuropsiquiatria, o intestino, e os níveis hormonais gerais, nem sempre alterados ao ponto de provocarem o surgimento de doenças endocrinológicas evidentes, são do interesse da Psiquiatria Integrativa.
A identificação e discriminação dos sintomas psiquiátricos e neuropsiquiátricos entre várias possibilidades explicativas e terapêuticas, é da primazia do Psiquiatra Integrativista.
A ponte entre o sintoma mais preciso e a intervenção com a melhor chance é um desafío para todos os profissionais, dos que tiveram um investimento profissional mais econômico, até aos que fizeram um massiço e extenso investimento em sua formação médica especializada.
Os aspectos existenciais, espirituais, já há algumas décadas, eram abordados por alguns médicos ortomoleculares, que já falam, e não raro praticavam, a apometria – intervenções espiritualistas – ou espíritas mesmo! – e buscavam integrar por meio delas suas intervenções
abrangentes.
A medicina da espiritualidade é um dos campos mais modernos de pesquisa e desenvolvimento de uma medicina humanizada, que pode fazer grande diferença em vários terrenos da prática médica, do tratamento do cancer ao manejo do paciente suicida.
Foi, ao nosso ver, entretanto, um pouco retirada do universos de interesses da Medicina Integrativa, comparativamente ao universo de grupos de médicos da antiga Medicina Ortomolecular.
Mas tem sido, timidamente resgatada por outros grupos médicos, mais próximos das intervenções centradas em fundamentos estatísticos.
*Dr. Sander Fridman – CRM 15.398: psiquiatria, neuropsiquiatria, psiquiatria integrativa. Ex-sócio titulado das Associações Gaúcha e Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais Livres. Psicanalista Cognitivista.