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O surf fazendo gerações (Homenagem ao surfista Giovanni Mancuso)

Já se pode falar em “gerações” do surf no Brasil. A cada vinte anos, como praxe, defini-se o tempo que separa uma da outra.

Na verdade, já se pode dizer que aqui não são apenas duas, mas três.

Embora raramente, é possível presenciar em algumas praias a pitoresca cena de um avô entrando na água com a sua prancha acompanhado do filho e do neto.

Quem começou a surfar na década de 60, com 13, 14, 15 anos, teria hoje por volta de 50, talvez um pouco mais.

Seria perfeitamente normal essa galera ter um filho ou filha de 25 a 30 anos e, quem sabe, um neto de 8 a 10 anos de idade.

Mesmo pais semitardios sentem a delícia que é ser acompanhado pelos filhos na prática que define sua postura filosófica perante o mundo, que guia seu espírito e que re-arranja com maestria os músculos do corpo.

Ricardo Bocão e o filho Bruce, formam uma dessas duplas. Davi Husadel e seu moleque, idem.

Picuruta treinando e filmando orgulhoso sua prole de talentosos filhos de peixe em Maresias, outra.

Elas se multiplicam, reforçam as relações, tecendo e consolidando a malha social do surf. Fortalecendo a expansão de um feto criado num líquido amniótico relativamente recente e convincentemente salgado.

Lembram-se? São apenas 35 a 40 anos. O que é a comunidade do surf? O que define uma cultura? Compartilhar costumes, língua, sonhos, ondas? Reconhecer-se no outro?

A ligação com o mar no DNA é sintoma típico. Embora único, esse DNA perpassa e transpira em todos, procurando o sol e o swell. O amor ao surf é facilmente reconhecível nas gerações de indivíduos que o compartilham. Cultura é algo que você é e que pode ser reconhecido também nos olhos do seu filho. Sem palavras ou explicações.

No nosso caso, apenas um gesto exemplar de sacar a parafina do bolso de trás da bermuda e aplicá-la instintivamente na superfície do veículo que nos remete às nossas origens anfíbias. Multiplique isso por dezenas de garotos, centenas, talvez milhares, e você testemunhará a construção de uma verdade. Uma unidade sócio-cultural.

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