O tripé esperança, fé e ciência – Jayme José de Oliveira
“Os maiores – em periculosidade – inimigos do homem são os menores: os vírus”. (Jayme José de Oliveira)
A batalha para vencê-los é árdua, sem quartel e deixa um rasto de vítimas antes da vitória final. Como em todas as guerras.
A humanidade nunca se deixou abater, nem o fará desta vez.
A ESPERANÇA sinaliza na fímbria do horizonte.
Há um tripé sobre o qual se assenta a tática que usaremos.
O Papa Francisco aponta a FÉ: “À pandemia do vírus responderemos com a universalidade da FÉ”. O terceiro ponto de apoio é a CIÊNCIA. Desde tempos imemoriais o cérebro humano pesquisou e encontrou soluções para os mais intrigantes problemas. Venceremos mais uma vez.
Há um plano de ação a ser seguido e todas as etapas, todos os procedimentos, têm de ter um encadeamento sinérgico e a nossa trincheira será o lar. Permaneçamos em quarentena, evitar o contato com o adversário não é covardia, ninguém em seu juízo perfeito enfrentaria um pitbull agressivo, estando desarmado.
Combatentes corpo a corpo, profissionais da saúde, transportes, produção e distribuição de artigos indispensáveis, da segurança, etc. merecem a nossa admiração, incentivo e respeito. Arriscam suas vidas para proteger as nossas.Façamos a nossa parte, evitando contatos desnecessários interrompemos a cadeia de transmissão. Os que, por teimosia e irresponsabilidade não cooperarem serão responsáveis pelas mortes que poderiam ser evitadas. Assassinos indiretos e igualmente torpes. Podem ser incluídos os cidadãos irresponsáveis participantes de carreatas em apoio ao fim da quarentena. Em tempo, “corajosos e indômitos” circulam em carros fechados e se refugiam em condomínios, isolados da plebe ignara. Lembro o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1988: “Somos cegos que veem? Cegos, que vendo não veem?”Fabrício Carpinejar, poeta e jornalista: “Para conservar a esperança temos que defender nossos ouvidos, não somente escutar os grasnados dos urubus e dos corvos. Há outros pássaros cantando lá fora e dentro da nossa memória”.
O diálogo que transcrevo ocorreu na Austrália, mas poderia ser aqui: – No ano passado ocorreram 249 mortes nas ruas, é muito, qual o número que considerarias aceitável? – Umas 70. – Ele disse 70? Isso são 70 pessoas. Pausa no vídeo, pessoas transitam. – Isso são 70 pessoas. – É a minha família.– Agora, o que seria um número razoável? – ZERO. Toda a pessoa faz falta para alguém. Dinheiro, temos toda avida para ganhar. Uma vida não tem preço. Fique em isolamento, eu quero você vivo(a).
A “gripezinha” do Bolsonaro lembra a “marolinha” do Lula. Fingindo-se cegos, ambos se destacam pelo exótico, pelo ridículo.
A ignorância pode virar crime se propalada por quem tem poder de mando. (Ronaldo Caiado- governador de Goiás – e FHC realçaram isso). O óbvio é que quem não tem conhecimentos técnicos sobre um assunto não deve impor regras, principalmente se possui ascendência e credibilidade sobre parte ponderável da população. Instiga a divisão do povo em alas inconciliáveis, que rumam para o irreconciliável.
O médico húngaro IgnazSemmelweis, em meados do século XIX, reconhecido como a primeira pessoa a descobrir os benefícios médicos da lavagem das mãos para evitar a propagação de vírus, recebeu uma homenagem do Google no dia 20/03. Em formato de vídeo, que permaneceu 24 horas em disponibilidade na página inicial do buscador Doodle, mostra a forma ideal de lavar as mãos. Doutor pela Universidade de Viena, em março de 1847 demonstrou que exigir dos médicos a higienização das mãos diminuiu radicalmente a ocorrência de morte de parturientes por febre puerperal.
Apesar de várias publicações de resultados onde lavar as mãos reduziu a mortalidade para menos de 1%, as observações de Semmelweis entraram em conflito com as opiniões científicas e médicas estabelecidas na época. Apenas anos depois de sua morte obteve reconhecimento, quando Louis Pasteur, descobridor da vacina antirrábica confirmou a teoria microbiana das doenças. Em 1860, Joseph Lister ampliou os estudos de Pasteur e auxiliou para a aceitação no mundo científico e médico. Incompreensível que, 160 anos após, ainda haja discussões sobre as técnicas corretas para evitar a difusão de doenças virais. Incompreensível que haja rejeição à quarentena, principalmente quando defendida por autoridades que não possuem embasamentos científicos para emitir opiniões.
Na contramão de qualquer resquício de racionalidade a Justiça do RS liberou 3.400 presidiários, alegando perigo de contágio nas celas. Eles estão livres… nós em quarentena. Ficarão em suas residências ou assaltarão “pelaí”, arriscando-se ao contágio que a soltura pretendia evitar e auxiliando a propagar ainda mais o coronavírus?
Pensem, senhores juízes. Pensem, não apenas com o viés de pensar nos detentos. Pensem no que pensam os pensantes em quarentena voluntária. Pensem nas possibilidades de propagação do COVID-19 por pessoas – detentos são pessoas, sim – que já demonstraram não terem o menor escrúpulo com as consequências de seus atos delituosos.
“Não podemos soltar presos e pôr em risco a população. Alguns fazem a proposta de soltar todos os presos que não tenham sido condenados por violência ou grave ameaça. Grandes traficantes foram condenados só por tráfico, vamos soltar todos os traficantes do país? Não faz sentido”. (Sérgio Moro – Ministro da Justiça)
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado