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Olha eu aqui no feicibuque

“1984”, a magnífica obra de George Orwell, escrito em 1948, fala de um mundo dominado pelo socialismo totalitário – reflexo do período pós-guerra quando Orwell, se desiludindo cada vez mais com os rumos do “socialismo” de Stalin, escreveu o livro. A obra retrata o mundo dividido em três grandes superestados: Eurásia, Lestásia e Oceania. Em uma ou outra aliança, esses três superestados estão em guerra permanente.

O objetivo da guerra, contudo, não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa, mas manter o poder do grupo dominante. O enredo, sob a perspectiva da Oceania, mostra como o Estado vigia os indivíduos e mantém um sistema político cuja coesão interna é obtida não só pela opressão da Polícia do Pensamento, mas também pela construção de um idioma totalitário, a Novilíngua, que, quando estivesse completo, tornaria o pensamento das pessoas cada vez mais igual e impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao Partido (Tweeter, facebook, share on facebook, notebook Internet Explorer e o Netscape Navigator, e por aí vai). A ideia do idioma é restringir o maior número possível das palavras, de tal forma que não existiriam palavras para expressar oposição ao Partido e ao Big Brother – o Grande Irmão.

A característica principal de “1984”, talvez seja o “duplipensar”, que consiste basicamente em se ter duas ideias contrárias, opostas, e aceitar ambas como verdade.

O objetivo do Partido era suprimir a individualidade com o propósito de destinar toda a vida dos cidadãos aos seus interesses. Para manter a população entorpecida e influenciada eram frequentes os eventos com fachadas políticas e patrióticas. Aquele que não participasse era acusado de cometer semideia – ou ideias ilegais para o Partido, e, portanto um perigo à segurança nacional.

O destino para os que fossem acusados de cometer semideia era o mesmo: ser vaporizado e virar impessoa.

Orwell compõe com brilhantismo uma “utopia negativa” onde os cidadãos são vigiados todo o tempo em todo lugar pelas teletelas (aparelhos que transmitem e captam som e imagem) sob a liderança do Partido e do Grande Irmão. Em todos os lares dos membros do Partido, praças, ruas e locais públicos, as teletelas transmitem a ideologia do Partido. Mais do que isso, captam todos os movimentos de seus filiados.

A eficiência do Partido é maior: faz com que o povo não só acredite na existência do Grande Irmão, mas o ame e o idolatre. Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, talvez, tudo que reste de privado seja alguns centímetros quadrados no cérebro.

1984 não é apenas mais um livro de política, mas uma metáfora de uma realidade que inexoravelmente estamos construindo. Para exemplificar, invasão de privacidade; avanços tecnológicos que propiciam vigilância total; destruição ou manipulação da memória histórica dos povos; e guerras para assegurar a paz já fazem parte do nosso mundo. Até onde a ciência pode atingir? E até onde um governo pode usar a tecnologia para manter a paz em seu país?

A nossa realidade global há algum tempo caminha no mundo antevisto em 1984, o ser humano não terá nenhuma defesa, sobretudo o ingênuo e dependente patológico das redes sociais, que disso não se apercebeu e, hoje, desbragadamente, confessa para o “Grande Irmão” que está amando loucamente a namoradinha secreta daquele deputado investigado pela Polícia Federal, que na noite passada comeu um churrasco no Piscinão de Ramos e foi vítima de uma diarreia jamais vista, que bebeu um generoso vinho em frente à lareira do chalezinho em Gramado, “quem transou com quem”, que se encontra hospitalizado em razão de moléstia não diagnosticada, que esquiou em Las Leñas no último inverno, que mostra a ele mesmo, deitado cama brega de um hotel da fronteira onde foi comprar “muambas” para revender. Tudo, tudo mesmo, documentado por fotos!

Pode???

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