Pasadena nunca mais – Jayme José de Oliveira
PONTO E CONTRAPONTO– por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
PASADENA NUNCA MAIS
Mário de Oliveira Filho, advogado do lobista Fernando Sabino, fez uma afirmação perturbadora. Ele disse: “O empresário, se porventura faz uma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, sabe que se não fizer isso não tem obra”. Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão. Notem: na prática o doutor está admitindo que crimes foram cometidos, mas com um diferencial: ele sugere que o seu cliente fez o que todo o mundo faz. Sabem o que é mais triste? Ele está falando a verdade.
Se os negócios estão sujeitos à interferência política, quanto mais estado houver na economia, maior será a corrupção. Mário de Oliveira Filho falou, sim, uma verdade. Uma verdade incômoda. O estado agigantado que frauda o preço dos combustíveis – para menos a fim de usufruirdividendos políticos, ou para mais a fim de angariar fundos que serão distribuídos aos “colaboradores” – pode fraudar uma licitação. Se, na Petrobras, bilhões foram escamoteados devemos supor que a prática é diferente em outras estatais?Vivemos num país de chanchada, anomia e corrupção institucionalizada.
Para combater o “status quo” desavergonhado, a Lava Jato reuniu juízes, procuradores, policiais e muitos mais que conseguiram resultados surpreendentes… mas não acabaram com a corrupção. É uma tarefa hercúlea que demandará persistência, continuidade e, principalmente, apoio dos mais altos escalões da República. Não é só o legislativo. Executivo e judiciário, infelizmente, foram contaminados parcialmente e os que a isso se opõem sofrem as mais sórdidas campanhas de descrédito. Calúnias, mentiras e falsas ilações têm de ser enfrentadas e, por vezes, o peso da improbidade é avassalador.
Empresas foram destruídas e muitas ainda o serão – dirigentes foram acusados, julgados e muitos conheceram o interior de celas prisionais. A pressão do ambiente recluso e a insistência de familiares redundaram em delações premiadas e essas a novas descobertas de malfeitos. E estamos apenas arranhando o verniz da iniquidade.
Relembrando o início da coluna: “Pagar propina é corrupção, não pagar redunda na exclusão dos contratos com estatais”. Contudo, construir pontes, usinas, vias de transporte é uma necessidade. É o cão correndo atrás do rabo, quando o alcança sofre as dores da “mordida”.
É preciso repensar a maneira de como se combate a corrupção no país, para que os efeitos colaterais não sejam mais danosos que os crimes. Um ataque que se dirija apenas às empresas – não aos empresários corruptos – é devastador, arrisca a economia e as instituições. “Combater a corrupção é como combater o câncer, é necessário eliminar o câncer sem matar o doente”.
A corrupção atua para comprar candidatos antes das eleições e para remunerar seu apoio, depois que eles foram eleitos. É indispensável cortar esse nó górdio e alcançar acordos que preservem o valor dos ativos que, por sua vez, garantirão a viabilidade dos negócios, a execução das obras a preço justo e os postos de trabalho.
Admitindo que empresas não devam ser inviabilizadas devido a gestões fraudulentas de toda ordem, faz-se necessário impedir a utilização de verbas públicas em empreendimentos inviáveis ou de custo acima dos valores de mercado. Pasadena nos EUA e Comperj no Rio de Janeiro são paradigmáticos em desperdício e corrupção institucionalizada.
O Tribunal de Contas da União (TCU) calcula que as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) geraram prejuízo de U$ 12,5 bilhões à Petrobras. A perda foi provocada inicialmente por “gestão temerária” dos administradores da estatal que aprovaram o avanço da construção do empreendimento, que se mostrou “inviável economicamente”.
Brasileiros que moram na Califórnia foram até a cidade de Pasadena mostrar a sucata que restou da Refinaria da Petrobras.São bilhões e bilhões de dinheiro público que foram jogados no lixo.
Os dados nebulosos começam com um pagamento inicial de US$ 360 milhões por metade da refinaria de Pasadena, uma sucata adquirida um ano antes pela empresa belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões.
Depois de perder na justiça e ser obrigada a comprar a outra parte da refinaria [com todos os encargos], a Petrobras já pagou 1,18 bilhão de dólares (cerca de R$ 4,7 bilhões).
O Conselho de Administração da Petrobras confirmou em 01/05/2019 a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para a francesa Chevron por US$ 467 milhões, cerca de R$ 1, 77 bilhão.
É o capítulo final de um dos projetos mais polêmicos da estatal, alvo da Operação Lava Jato.
Resumo da Ópera: Nós (brasileiros) pagamos R$ 4,7 bilhões por uma refinaria e agora a Petrobras vende a mesma refinaria por R$ 1,7 bilhão.
PASADENA NUNCA MAIS.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado