Perdão e as Festas de Fim de Ano – Dr. Sander Fridman*
Festas de fim-de-ano não combinam com tensão, mal-estar e novos capítulos de velhas brigas. Velhas mágoas se superam com entendimento e perdão. Para alguns, entretanto, exigir-se o perdão equivale a uma violência.
Mas a quem serve o perdão?
Quem o pede, alivia-se da hostilidade, recupera amizades e até lealdades; quem o concede, livra-se do rancor, da obsessão pelo fato, e se abre para outras prioridades e emoções, recupera as infinitas possibilidades do amor e da
amizade.
Para pedir perdão com sinceridade, exige respeitar, reconhecer o problema, responsabilidades, compreender como pode cometer o deslize, o que, de dentro e de fora, o permitiu, e assim poder pedir perdão com sinceridade, mostrando real arrependimento, e a promessa de não se repetir, e de compensar como for possível pelo dano causado.
Para concedê-lo, é preciso reconhecer que sem a mágoa e o rancor estaremos melhor, libertos. Mas entendemos de fato por que nos magoaram? Foi uma atitude nossa? É algo que podemos mudar? Aprendemos com a experiência?
Ou quem nos magoou apresenta conosco diferenças irreconciliáveis, mágoas inconfessáveis? Convêm esquecer e “baixar a guarda”?
Há pessoas que obtêm, da mágoa e do rancor, a confirmação, para si e para outros, de que são essencialmente melhores do que as pessoas que as magoaram. Há pessoas que desfrutam do mal-estar que provocaram, naqueles a
quem magoaram, como prova narcísica de as terem superado, vencido.
Para estes, conceder ou pedir perdão sincero será improvável. Serão fontes de frustração para os que tentam pacificar e reaproximá-los para uma festa feliz em família.
O amor e a amizade são uma riqueza que, como tal, só a aproveitam os que sabem aceitar, com gratidão, sua parte, seu quinhão, sem revoltas pelo que demais poderiam ainda ter conquistado.
* Doutor em Psiquiatria pela UFRJ. Pós-Doutor em Direito pela UERJ. Neuropsiquiatria, Psicanálise Cognitivista, Casais, Crianças. Psiquiatria Forense.