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Pizzolato, o fugaz

Quando eu era menino, aos domingos, costumava ir às matines no cinema Ipiranga ver as sessões duplas dos filmes do velho oeste. Sempre torcia pelo bandido, porque enquanto ele não fosse pego a sessão não terminava.

Na minha ingênua visão do legal ou ilegal, do certo e do errado, do que são os nossos tribunais superiores – e creio que para a maioria das pessoas – achava que o processo do Mensalão não daria em nada.

Ao fim e ao cabo de tudo, haveria de se dar um jeito e, de uma forma ou de outra – afinal, o papel aceita tudo, mais ainda quando servem às interpretações dos magistrados –, todos sairiam livres e a sorrir. Não foi bem assim, como a gente viu. Se não foi o ideal, com punição exemplar, ao menos aplacou um pouco o sentimento de injustiça.

Quem pode ter comiseração com os dois “Josés”, além de um ou outro subserviente que foi protestar com cartazes em defesa desses réus? De minha parte nenhuma. Não me comove, por exemplo, o estado de saúde do Genoino. Almejo que tenha o mesmo tratamento médico do traficante ou do ladrão de galinhas recolhidos à Papuda.

Acho até, repito, na minha ignorância sobre as leis, que não foi arquétipo as punições impostas aos “Zés”. Quem dera eu ter a certeza, ao menos, de que eles experimentarão a angústia nova, não particularmente penosa ou aguda, mas durável, infinita. Que vislumbrem meses intermináveis, senão eternos, enquanto, diariamente, à noitinha, retornam ao cárcere. E sintam o tempo vagaroso e angustiantemente passar em ambiente o mais inóspito possível, exatamente como vivencia Raskólnikov em “Crime e Castigo”.

Porém, nesse universo quadrilheiro, eis que aparece a figura de um fugaz para quem, admito, passei, como nos tempos de criança, a torcer para  que não caia preso: Henrique Pizzolato.

A sua fuga, pensando bem, traduz a um só tempo as fragilidades daqueles que têm a obrigação de manter sobre controle o réu criminoso, como também serve de translúcida auto-acusação do fugitivo, e leva com ele por contágio esta condição a todos os outros condenados ligados ao Mensalão.

Segundo se especula, Henrique Pizzolato está na Itália. A  diplomacia italiana, entretanto – dizem os jornais –, sequer foi informada pelo Planalto da apreensão dos passaportes brasileiro e italiano de Pizzolato por determinação do STF. Que incúria!

E o governo italiano, caso seja verdade a fuga para a Itália de Pizzolato, deve estar radiante, e o receberá de braços abertos. É a hora do desforço. Lembram de Cesare Battisti? Pois agora, danem-se, haverá de responder a Chancelaria italiana.

Aproveite bem, Pizzolato, a sua nova pátria. A Itália é linda, possui mulheres maravilhosas, tem uma culinária inigualável e vinhos de cepa nobres, um dos melhores do mundo. Não esqueça também, Pizzolato, entre uma conferência e outra sobre como se rouba e se foge do Brasil, de explorar a arte de Masolino, Botticelli, Michelangelo, da Vinci, Bellini, Peruzzi… Respire  Roma, Florença e Veneza. Delicie-se com lago Maggiore, mas precavido tome cuidado para não passar a fronteira da Itália com a Suíça.

E, se ainda algum tempo lhe sobrar, por vezes lembre-se dos companheiros Zé Dirceu e Genoino que estão cumprindo um semi-aberto. Por enquanto…

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